quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Insanidade

autor:Daniel Schiavoni

Despertou de repente em sua cama. Podia ouvir todas as molas rangerem. Suas pupilas se dilatavam, tentando capturar algum raio de luz fugidio. Nada. Apesar do frio que fazia lá fora, seu corpo estava coberto de suor. Escutava as batidas de seu coração, como um tambor contínuo, apressado, desesperado. Sentou-se na cama, limpou o suor da testa com as costas da mão e tentou recobrar a consciência. ‘É só um pesadelo’, mentiu.
Sabia o que era aquilo. Como prometido, seria essa noite. A qualquer momento, o sussurro em seu ouvido lhe daria a ordem. ‘Levante-se, Samuel’, ordenou-lhe a voz, enquanto cada pelo de seu corpo se eriçava. Não ousaria desobedecer. ‘Gire a maçaneta’. Cego pelo pavor e pela completa penumbra daquele corredor, desferia cada passo com hesitação. Apalpava as paredes numa vã tentativa de identificar o caminho. A escuridão o sufocava. Suas mãos puderam, enfim, sentir a quina da parede. Podia escutar o rítmico choque de seus dentes. Apoiou-se na parede e esticou vagarosamente seu pescoço em direção à sala. Estava ali, imóvel. ‘Venha, Samuel!’ E então, ele contemplou a criatura por completo. Era uma projeção de suas lembranças, que tomavam a forma de seu próprio corpo. Estavam lá, como pequenos demônios que, depois de trancafiados na bastilha do esquecimento, invadiam novamente a memória de Samuel.
Ele espremia com força suas pálpebras, enquanto suas mãos tapavam, em vão, seus ouvidos. Decepções, angústias e rejeições. Medos, sofrimentos e solidão. ‘Aceite, Samuel, aceite a loucura. Essa é a sua vida. Não há para onde fugir. Você pode encarar o fracasso e todas as desilusões que ainda te esperam? Abrace o presente da loucura!’
Aquele rosto vermelho, molhado pelas lágrimas que jorravam, finalmente se clareou. Por um segundo, fez se silêncio. Quando, de um canto da boca, um risinho debochado surgia, ficava maior e maior. Até que explodiu numa gargalhada histérica. Os músculos da face se contraíam enquanto seu corpo lagarteava no chão. E tudo o que se escutava era a gargalhada desesperada, assombrosa. E quem olhava entendia: pulara, enfim, no abismo da insanidade.


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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Um dia

autor:Isaac Asimov

Niccolo Mazetti estava deitado de bruços sobre o tapete, o queixo enterrado na palma da mão pequena e ouvia o Bardo, desconsolado.* Percebia-se até o começo de lágrimas em seus olhos escuros, luxo a que só se podia permitir uma criatura com onze anos de idade quando se encontrava sozinha. O Bardo disse:

- Uma vez no meio da floresta enorme, vivia um pobre lenhador com suas duas filhas sem mãe, que eram tão belas quanto o dia é longo. A filha mais velha tinha cabelos pretos e compridos como a pena de asa da graúna, mas a filha mais nova tinha cabelos tão brilhantes e dourados como a luz do sol em tarde de outono.

- Muitas vezes, enquanto as meninas esperavam que o pai voltasse para casa, após trabalhar no mato, a filha mais velha sentava-se diante do espelho e cantava…

O que ela cantava Niccolo não ouvia, porque alguém o chamou de fora do quarto:

- Ei, Nickie.

E Niccolo, o rosto desanuviando-se no mesmo instante, correu até a janela e gritou:

- Ei, Paul.

Paul Loeb acenou com a mão agitada. Era mais magro do que Niccolo e não tão alto, mesmo sendo seis meses mais velho. Tinha o rosto cheio de tensão reprimida, que se mostrava com mais clareza no rápido piscar das pálpebras.

- Ei, Nickie, quero entrar. Tenho uma idéia e metade. Espere só até ouvir.

Olhou rapidamente em volta, como a verificar a possibilidade de ouvintes furtivos, mas o quintal da frente estava evidentemente vazio. Repetiu, então, em cochicho:

- Espere só até ouvir.

- Muito bem, já abro a porta.

O Bardo continuou suavemente, sem saber da perda de atenção por parte de Niccolo. Quando Paul entrou, o Bardo estava dizendo:

- …Com que o leio disse: “Se você encontrar para mim o ovo perdido da ave que voa sobre a Montanha de Ébano, uma vez a cada dez anos, eu…”

Paul disse:

- Você está ouvindo o Bardo? Eu não sabia que você tinha um.

Niccolo se tornou rubro e a expressão de infelicidade regressou a seu semblante.

- É só uma coisa velha que eu tinha, quando era menino. Não está muito boa.

Desferiu um pontapé no Bardo e acertou, na cobertura de plástico, um tanto arranhada e descolorida, um outro golpe.

O Bardo teve um soluço, como se a ligação do alto-falante fosse tirada do contato por um momento, e depois prosseguiu:

- …por um ano e um dia, até que os sapatos de ferro se gastaram. A princesa parou do lado da estrada…

Paul disse:

- Rapaz, esse ê mesmo um modelo antigo – e olhou para aquilo com expressão crítica.

A despeito da própria amargura que Niccolo sentia contra o Bardo, não lhe agradou o tom condescendente do outro. Sentia momentaneamente pesar por ter deixado Paul entrar, pelo menos antes de haver recolocado o Bardo em seu lugar de descanso habitual no porão. Só pelo desespero de um dia monótono e um debate infrutífero com o pai é que ele o fizera ressuscitar. E acabara verificando ser coisa tão estúpida quanto imaginara.

Nickie tinha um pouco de medo de Paul, já que este fizera cursos especiais na escola e todos diziam que ele ia crescer e ser um Engenheiro de Computador.

Não que o próprio Niccolo estivesse a se sair mal na escola. Recebera notas adequadas em lógica, manipulações binárias, computação e circuitos elementares; todas as disciplinas costumeiras da escola primária. Mas era exatamente isso! Não passavam de disciplinas comuns e ele crescia para ser um guarda de painel de controle, como todos os outros.

Paul, todavia, conhecia coisas misteriosas sobre o que chamava de eletrônica e matemática teórica e programação. Principalmente programação. Niccolo nem mesmo procurava compreender quando Paul falava sobre o assunto, parecendo borbulhar.

Paul olhou o Bardo por alguns minutos e disse:

- Você andou usando muito isso aí?

- Não! – retorquiu Niccolo ofendido. -Tenho isso guardado no porão desde que você mudou para cá. Só tirei de lá hoje… – Faltava-lhe uma desculpa que parecesse adequada a si próprio, de modo que ele concluiu: – Acabei de tirar.

Paul perguntou:

- É isso o que ele lhe conta: lenhadores e princesas e animais que falam?

Niccolo explicou:

- Uma coisa horrível. Meu pai disse que não podemos comprar um novo. Eu falei com ele, hoje de manhã… – A recordação das súplicas inúteis que fizera de manhã levou Niccolo a aproximar-se muito das lágrimas, que reprimiu tomado de pânico. De algum modo achava que as faces magras de Paul nunca haviam sentido a vergonha das lágrimas e que Paul só poderia desdenhar outra pessoa menos forte que ele próprio. Niccolo prosseguiu: – Por isso achei que devia experimentar outra vez essa coisa velha, mas não vale nada.

Paul desligou o Bardo, apertou o contato que levava para a reorientação e recombinação quase instantâneas do vocabulário, personagens, textos da trama e clímax ali guardados. Depois reativou.

O Bardo começou, devagar:

- Uma vez havia um menino chamado Willikins, cuja mãe morrera e que vivia com o padrasto e o filho do padrasto. Embora o padrasto fosse um homem bem rico, negava ao pobre Willikins a própria cama em que dormia, de modo que Willikins era obrigado a descansar o melhor que podia em um monte de palha no estábulo, perto dos cavalos…

- Cavalos! – gritou Paul.

- São uma espécie de animal – disse Niccolo. – Acho que são.

- Eu sei disso! Agora imagine só, estórias sobre cavalos.

- Ele fala de cavalos o tempo todo – explicou Niccolo. – Existem também coisas chamadas vacas. Você tira leite delas e o Bardo não diz como.

- Bem, puxa vida, por que você não conserta isso?

- Gostaria de saber como.

O Bardo estava dizendo:

- Muitas vezes Willikins pensava que se fosse rico e poderoso haveria de mostrar ao padrasto e ao filho do padrasto o que significava ser cruel com um menino pequeno, de modo que um dia resolveu sair para o mundo e procurar sua sorte.

Paul, que não ouvia o Bardo, disse:

- Ê fácil. O Bardo tem cilindros de memória preparados para as palavras da trama e os clímax e as coisas. Não vamos nos preocupar com isso. É só o vocabulário que devemos consertar, de modo que ele vai saber acerca dos computadores, automatização e eletrônica e as coisas reais que temos hoje. Depois pode contar estórias interessantes, você sabe, em vez de falar sobre princesas e essas coisas.

Animado, Niccolo disse:

- Oxalá a gente pudesse fazer isso.

Paul disse:

- Escuta, meu pai diz que se eu entrar na escola especial de computação, no ano que vem, ele vai me dar um Bardo de verdade, um modelo novo. Bem grande, com ligação para estórias de mistérios do espaço. E uma ligação visual também!

- Quer dizer que você vai ver as estórias?

- Claro. O senhor Daugherty, na escola, diz que elas têm coisas assim, agora, mas não são para todos. Só se eu entrar na escola de computação. O Papai pode arranjar umas coisas.

Os olhos de Niccolo transbordavam de inveja.

- Puxa vida. Ver uma estória!

- Você pode ir lá em casa e assistir a qualquer momento, Nickie.

- Puxa vida, rapaz. Obrigado.

- De nada. Mas lembre-se de uma coisa, sou eu quem diz que tipo de estória vamos ouvir.

- Claro, claro – Niccolo teria concordado prontamente, mesmo sob condições mais severas.

A atenção de Paul se voltou para o Bardo, que dizia:

- “Se é assim”, disse o rei, cofiando a barba e fechando a cara até que as nuvens cobriram o céu e o relâmpago riscou o ar, “você vai providenciar para que toda a minha terra fique livre das moscas a esta hora, depois de amanhã, ou…”.

- Tudo que temos a fazer – disse Paul – é abrir… – E desligou novamente a Bardo, já procurando tirar o painel da frente enquanto falava.

- Ei – interveio Niccolo, alarmado de súbito. – Não vai quebrar.

- Não vou quebrar – disse Paul, com impaciência. – Eu sei tudo sobre essas coisas. – E logo, com cautela repentina: – Seu pai e sua mãe estão em casa?

-Não.

- Muito bem, então. – Já tirara o painel dianteiro e olhava para o interior. – Rapaz, isto é coisa de um cilindro.

Já trabalhava nas entranhas do Bardo. Niccolo, que observava em suspense penoso, não conseguia enxergar o que o outro fazia.

Paul tirou de lá uma faixa fina e flexível de metal, coberta de pontos.

- Este é o cilindro de memória do Bardo. Aposto que a capacidade de estórias dele tem menos de um trilhão.

- O que você vai fazer, Paul? – perguntou Niccolo, trêmulo.

- Vou dar-lhe vocabulário.

- Como?

- É fácil. Tenho um livro aqui. O Sr. Daugherty me deu na escola.

Paul tirou o livro do bolso e retirou a sua tampa de plástico. Desenrolou a fita um pouco, passou-a pelo vocalizador que abaixou até tornar-se um murmúrio e depois o colocou dentro das entranhas do Bardo. E fez outras ligações.

- O que isso vai fazer?

- O livro vai falar e o Bardo guardará tudo na fita de memória.

- E de que serve?

- Rapaz, você é burro! Meu livro é todo sobre computadores e automatização e o Bardo ficará com toda essa informação. Depois vai poder parar de falar sobre reis que criam relâmpagos quando fecham a cara.

Niccolo disse:

- E o bom sujeito sempre vence, seja lá como for. Não tem graça nenhuma.

- Oh, bem – disse Paul, observando para ver se o seu arranjo estava funcionando corretamente. – É assim que eles fazem os Bardos. Eles precisam fazer os bons camaradas vencerem e os maus camaradas perderem, coisas desse tipo. Uma vez ouvi meu pai falando sobre o assunto. Ele diz que sem a censura não se podia dizer o que a geração mais jovem seria capaz de tornar-se. Ele diz que a coisa já anda muito ruim… Pronto, está funcionando muito bem.

Paul esfregou as mãos uma na outra e afastou-se do Bardo, dizendo:

- Mas escute, ainda não lhe contei como é a minha idéia. É a melhor coisa que você já ouviu, pode crer. Vim falar com você porque achei que você havia de entrar nela comigo.

- Com certeza, Paul, com certeza.

- Muito bem. Você conhece o Sr. Daugherty, na escola? Você sabe que ele é um sujeito gozado. Pois bem, ele gosta de mim, um pouco.

- Eu sei.

- Estive na casa dele depois da escola, hoje.

- Você esteve?

- Claro. Ele diz que eu vou entrar na escola de computadores e quer me animar, coisas assim. Ele diz que o mundo precisa de mais gente que saiba projetar circuitos de computadores avançados e fazer uma programação correta.

-É?

Paul podia perceber parte da vacuidade daquele monossílabo. Disse, com impaciência:

- Programação! Eu já lhe contei mais de cem vezes. É quando você cria problemas para os computadores gigantescos como o Multivac resolverem. O Sr. Daugherty diz que está ficando cada vez mais difícil encontrar pessoas que saibam dirigir bem os computadores. Ele diz que qualquer pessoa pode ficar de olho nos controles e verificar as respostas e processar os problemas de rotina. Diz que o truque é expandir as pesquisas e calcular modos de fazer as perguntas certas, e que isso é difícil.

Ele prosseguiu:

- De qualquer modo, Nickie, ele me levou até a casa dele e me mostrou a coleção de computadores antigos. É uma espécie de passatempo dele colecionar computadores antigos. Tinha computadores tão pequenos que era preciso apertar com a mão, com botõezinhos por cima. E tinha um pedaço de madeira que chamava de régua de calcular, com um pedacinho lá dentro que corria pra lá e pra cá. E alguns fios com bolas. Tinha até um pedaço de papel com uma espécie de coisa que chamava tabela de multiplicação.

Niccolo, que só se interessava moderadamente pelo assunto, perguntou:

- Uma tabela de papel?

- Não era uma tabela de verdade, coisa diferente. Era para ajudar as pessoas a computar. O Sr. Daugherty quis explicar, mas não estava com muito tempo e era um pouco complicado.

- Por que as pessoas não usavam um computador?

- Isso foi antes de terem computadores – bradou Paul.

- Antes?

- Claro. Você acha que as pessoas sempre tiveram computadores? Você nunca ouviu falar nos homens das cavernas?

Niccolo disse:

- E como é que eles se arranjavam sem computadores?

- Não sei. O Sr. Daugherty diz que eles tinham filhos em qualquer hora e faziam tudo que lhes dava na cabeça, fosse ou não fosse bom para todos. Nem sabiam se era bom ou não. E os lavradores plantavam coisas com as mãos e as pessoas tinham de executar o trabalho nas fábricas e dirigir todas as máquinas.

- Não acredito!

- Foi o que o Sr. Daugherty disse. Ele disse que aquilo era uma bagunça desgraçada e todos sofriam… Seja lá como for, quero falar de minha idéia, você deixa?

- Muito bem, pode falar. Quem está impedindo? – contrapôs Niccolo. ofendido.

- Pois é. Muito bem, os computadores manuais, aqueles que têm botões, tinham também uns rabiscos em cada botão. E a régua de calcular tinha rabiscos também. E a tabela de multiplicação era cheia de rabiscos. Eu perguntei o que era aquilo. O Sr. Daugherty disse que eram números.

- O quê?

- Cada rabisco diferente representava um número diferente. Para “um” você fazia uma espécie de marca, para “dois” você fazia outra espécie de marca, para “três”, outra, e assim por diante.

- E para quê?

- Para poder computar.

- Mas para quê”! É só dizer ao computador…

- Puxa vida! – gritou Paul, o rosto contorcido de raiva. -Você não entende as coisas? Aquelas réguas de calcular e outros negócios não falavam.

- Nesse caso como…

- As respostas apareciam em rabiscos, e você tinha de saber o que os rabiscos significavam. O Sr. Daugherty diz que naqueles dias todos aprendiam a fazer os rabiscos quando eram crianças e como decifrar aquilo, também. Fazer rabiscos era chamado “escrever” e decodificar os rabiscos “ler”. Ele diz que havia uma espécie diferente de rabisco para cada palavra e eles costumavam escrever livros inteiros em rabiscos. Disse que tinham alguns no museu e que eu podia dar uma espiada se quisesse. Disse que se eu vou ser um calculista e programador de verdade tenho que conhecer a história da computação e por isso estava me mostrando todas aquelas coisas.

Niccolo fechou a cara e disse:

- Você quer dizer que todos tinham de decifrar os rabiscos para cada palavra e lembrar deles?… Isso é verdade ou você está inventando?

- É tudo verdade. Pode crer. Escute, é assim que se faz um “um”. – E levou o dedo a atravessar o ar, em talho vertical rápido. – Assim você faz “dois” e assim é “três”. Aprendi todos os números até “nove”.

Niccolo observava aquele dedo que fazia curvas, sem entender.

- E de que adianta isso?

- Você pode aprender como fazer palavras. Perguntei ao Sr. Daugherty como se fazia o rabisco para “Paul Loeb” mas ele não sabia. Contou que existem pessoas no museu que sabem. Disse que havia pessoas que tinham aprendido a decodificar livros inteiros. Contou também que os computadores podem ser projetados para decodificar livros e costumavam ser usados assim, mas agora não são mais, porque hoje temos livros de verdade, com fitas magnéticas que entram pelo vocalizador e saem falando, você sabe.

- Claro.

- Por isso, se nós formos ao museu, poderemos aprender como fazer palavras em rabiscos. Eles vão deixar porque eu vou para a escola de computadores.

Niccolo estava transfigurado de decepção.

- A sua idéia é essa? Ora bolas, Paul, quem quer fazer isso? Fazer rabiscos estúpidos!

- Você não entendeu? Você não entende? Seu burro! Vai ser um feito de escrever mensagens secretas!

- O quê?

- Pois é. De que adianta falar, quando todo mundo pode entender? Com os rabiscos você pode mandar mensagens secretas, pode fazer os rabiscos no papel e ninguém neste mundo vai saber o que você está dizendo, a não ser que conheça os rabiscos também. E eles não vão conhecer, pode crer, a menos que a gente ensine. Podemos ter um clube de verdade, com iniciação, regras, uma casa. Rapaz…

Uma certa animação começou a se fazer sentir no peito de Niccolo.

- Que tipo de mensagens secretas?

- Qualquer tipo. Vamos dizer que eu quero convidar você para ir â minha casa e assistir ao meu novo Bardo Visual, e não quero que nenhum dos outros camaradas apareça. Eu faço os rabiscos certos no papel e lhe dou e você olha e sabe o que deve fazer. Ninguém mais fica sabendo. Você pode até mostrar a eles e eles não entendem nada.

- Ei, isso é bom – berrou Niccolo, completamente seduzido pela idéia. – Quando vamos aprender a fazer isso?

- Amanhã – disse Paul. – Eu vou pedir ao Sr. Daugherty para explicar no museu que está tudo certo e você arranja licença com seu pai e sua mãe. Podemos ir logo depois da escola e começar a aprender.

- É claro! – gritou Niccolo. – Podemos ser os chefes do clube.

- Eu vou ser o presidente do clube – disse Paul, taxativo. -Você pode ser o vice-presidente.

- Está certo. Ei, isso vai ser muito mais divertido do que o Bardo.

De repente lembrou-se do Bardo e disse, tomado de apreensão repentina:

- Ei, e que tal o meu velho Bardo?

Paul voltou-se para olhar. Estava aceitando silenciosamente o livro que se desenrolava devagar, e o som das vocalizações do livro era um murmúrio que mal se ouvia.

Ele disse:

- Vou desligar.

Trabalhou naquilo enquanto Niccolo observava, aflito. Depois de alguns instantes Paul recolocou o seu livro rebobinado no bolso, recolocou o painel e o ativou.

O Bardo disse:

- Uma vez, em uma cidade grande, havia um pobre menino chamado Fair Johnnie, cujo único amigo no mundo era um pequeno computador. O computador todas as manhãs dizia ao menino se ia chover naquele dia e resolvia qualquer problema que ele tivesse. Nunca errava. Mas aconteceu que um dia o rei dessa terra, tendo ouvido falar no pequeno computador, resolveu que devia ficar com ele. Com esse objetivo chamou seu Grande Vizir e disse…

Niccolo desligou o Bardo com movimento rápido da mão.

- A mesma bobagem de sempre – disse, cheio de emoção. – Mesmo com um computador enfiado aí.

- Bem – disse Paul – eles têm tanta coisa na fita que o negócio de computador não aparece muito quando se fazem combinações aleatórias. Seja lá como for, qual é a diferença? Você precisa de um modelo novo.

- Nós nunca poderemos comprar um. Só esta coisa velha e chata. – Voltou a dar-lhe um pontapé, acertando-o com mais força dessa feita. O Bardo moveu-se para trás, um gemido de rodas dentadas.

- Você sempre vai poder ver o meu, quando eu ganhar – prometeu Paul. – Além disso, não se esqueça de nosso clube de rabiscos.

Niccolo assentiu.

- Vou lhe dizer uma coisa – prosseguiu Paul. – Vamos até lá em casa. Meu pai tem alguns livros sobre os tempos antigos. Podemos escutar e, talvez, arranjar algumas idéias. Você deixa um recado para seus pais e talvez possa ficar lá em casa para a ceia. Vamos embora.

- Está certo – disse Niccolo, e os dois meninos saíram correndo, juntos. Niccolo, em seu entusiasmo, correu quase diretamente para o Bardo, mas apenas encostou no ponto de sua coxa onde havia feito contato e continuou correndo.

O sinal de ativação do Bardo brilhou. A colisão de Niccolo fechou um circuito e, embora estivesse sozinho no aposento e não houvesse ninguém para ouvir, começou ainda assim a contar uma estória.

Mas não era mais em sua voz costumeira; em tom mais baixo, que tinha uma dose de rouquidão. Um adulto que ouvisse, poderia ter julgado que a voz traduzia alguma paixão, um vestígio bem próximo a sentimento.

O Bardo dizia:

- Uma vez havia um pequeno computador chamado Bardo, que vivia sozinho com pessoas cruéis. As pessoas cruéis não paravam de zombar do pequeno computador, dizendo-lhe que não valia nada e que era objeto inútil. Batiam nele e o mantinham sozinho no quarto por meses seguidos.

- No entanto, o pequeno computador continuou a ter coragem. Sempre fazia o melhor que podia, obedecendo alegremente a todas as ordens. Ainda assim as pessoas cruéis com que ele vivia continuavam cruéis e sem coração.

- Um dia o pequeno computador ficou sabendo que no mundo existiam muitos computadores de todos os tipos, em grande número. Alguns eram Bardos como ele próprio, outros dirigiam fábricas e alguns dirigiam fazendas. Alguns organizavam a população e outros analisavam todos os tipos de dados. Muitos eram de grande poder e sabedoria, muito mais poderosos e sábios do que as pessoas cruéis que eram tão cruéis com o pequeno computador.

- E o pequeno computador ficou sabendo então que os computadores iriam tornar-se cada vez mais sábios e mais poderosos até que um dia… um dia… uma dia…

Uma válvula devia finalmente ter entrado em colapso nas entranhas idosas e corroídas do Bardo, pois enquanto esperava sozinho no aposento que escurecia, só podia murmurar repetidamente:

- Um dia… um dia… um dia…



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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A armadilha

autor:H.P. Lovecraft e Henry S. Whitehead

uma quinta-feira matinal de dezembro tudo começou com aquele movimento errático que
pensei ter visto em meu antigo espelho de Copenhague. Algo me pareceu se mexer e
refletir no vidro. Entretanto eu estava só em meu quarto. Parei e olhei atentamente. Mas,
achando que o efeito seria pura ilusão, continuei penteando o cabelo.
Descobri o antigo espelho coberto de pó e teia de aranha num anexo dum edifício da assembléia
legislativa estadual abandonado no território nortista escassamente povoado de Santa Cruz e o
trouxera de Ilhas Virgens a Estados Unidos. O admirável vidro estava escurecido por duzentos anos
de exposição a um clima tropical e o gracioso ornamento, ao longo do topo da armação dourada,
estava rachado. Destaquei os pedaços fixados atrás na armação antes de os guardar com meus
outros pertences.
Agora, vários anos depois, eu passava metade do tempo como convidado e metade como tutor na
escola particular de meu velho amigo Browne, numa ventosa encosta de Coneticute. Tinha a minha
disposição uma das alas abandonadas, que era utilizada como dormitório. Meus aposentos
consistiam em dois quartos e um pequeno vestíbulo. O velho espelho, alojado com cuidado entre
colchões, foi o primeiro de meus pertences a ser desempacotado quando cheguei. O coloquei em
lugar de honra, em cima dum velho painel de pau-rosa que pertencera a minha bisavó.
A porta de meu quarto era exatamente oposta à da sala de estar, separadas por um vestíbulo.
Percebi que olhando em meu espelho da cômoda eu podia ver o espelho maior através das duas
entradas, onde se refletia um assintótico corredor. Nessa manhã de quinta-feira tive a curiosa
impressão dum movimento embaixo do corredor normalmente vazio, mas, como eu disse, logo
descartei tal impressão.
Quando cheguei à sala de jantar achei todo mundo reclamando de resfriado e soube que o
sistema de aquecimento da escola estava temporariamente desligado. Sendo especialmente sensível
a baixa temperatura, isso me causava um sofrimento agudo. Decidi não encarar a gélida sala de aula
nesse dia. Conseqüentemente convidei minha classe a ir até minha sala de estar pruma sessão
informal em minha lareira. Sugestão recebida entusiasticamente.
Depois da sessão um dos meninos, Roberto Grandison, perguntou se poderia permanecer se não
tivesse compromisso pro segundo período matutino. Eu lhe disse que ficasse, e bem-vindo. Se
sentou numa cadeira confortável diante da lareira e começou a estudar.
Não muito depois Roberto passou a uma cadeira um pouco mais distante da chama recém ateada.
Essa mudança o deixou diretamente oposto ao velho espelho. De minha própria cadeira, noutra
parte do quarto, notei como começou a olhar fixamente o vidro escuro, embaçado e, desejando
saber o que tanto o interessava, me lembrei de minha própria experiência naquela manhã. Ao passar
muito tempo contemplando um franzir de cenho marcou sua fronte.
Afinal lhe perguntei, tranqüilamente, o que chamara sua atenção. Lentamente, e ainda ostentando
a pasma carranca, pensou e respondeu cautelosamente:
─ É a ondulação no vidro ou tudo o que isso representa, senhor Canevin. Notei que tudo parece
vir dum certo ponto. Olhes: Te mostrarei o que quero dizer.
O menino saltou a cima, foi ao espelho e colocou seu dedo num ponto próximo ao canto inferior
esquerdo.
─ É bem aqui, senhor. ─ Explicou. Virou pra me olhar e manteve o dedo no local escolhido.
O ato de se virar a mim pode ter feito apertar mais seu dedo contra o vidro. De repente retirou a
mão como se com algum esforço e soltou um débil murmúrio de asco: Ai! Então olhou o vidro com
evidente mistificação.
N

─ O que aconteceu? ─ Perguntei me levantando e me aproximando.
─ Por que... isto... ─ Parecia embaraçado. ─ Isto... eu... senti... Realmente, como algo puxando
meu dedo. Parece... hummm... perfeitamente tolo, senhor, mas era uma sensação muito peculiar.
Roberto tinha um vocabulário incomum pra seus quinze anos.
Me aproximei e mandei me mostrar o local exato que apontara.
─ Pensarás que eu sou muito tolo, senhor ─ disse corando ─, mas daqui não pude ter certeza. Da
cadeira parecia bem claro.
Agora, muito interessado, me sentei na cadeira que Roberto ocupara e olhado o local que
selecionou no espelho. Imediatamente algo saltou ante meus olhos. Percebi que daquele exato
ângulo todas as ondulações no antigo espelho pareciam convergir como um feixe de cabos
estendidos em rede e colhido no meio por uma mão.
Se levantando e cruzando o olhar ao espelho já não pude ver a curiosa mancha. Só de certos
ângulos era visível. Olhado diretamente aquela porção do espelho nem mesmo tinha reflexo normal:
Não pude ver minha face nele. Obviamente eu tinha um quebra-cabeça secundário nas mãos.
Então o gongo escolar soou e o fascinado Roberto Grandison saiu apressadamente, me deixando
só com meu pequeno e estranho problema ótico. Abri as cortinas das janelas, andei no corredor e
procurei a mancha no reflexo do espelho da cômoda. A localizei prontamente. Olhei atentamente e
pensei ter descoberto novamente algo do movimento. Estirei o pescoço e, afinal, num certo ângulo
de visão, a coisa novamente saltou ante meus olhos.
O vago movimento era agora positivo e definido. Parecia um movimento torcional ou giratório.
Como um efêmero mas intenso ciclone ou tromba d’água ou uma precipitação de folhas de outono
rodopiando num remoinho de vento ao longo dum gramado nivelado. Era, como o da terra, um
movimento duplo, rotação e translação, como se as ondulações se vertessem eternamente a algum
ponto dentro do vidro. Fascinado e ainda percebendo que a coisa deveria ser uma ilusão ótica, tive
uma inequívoca sensação de sucção e pensei na tímida explicação de Roberto:
─ Eu sentia como se a coisa sugasse meu dedo.
Repentinamente um leve arrepio percorreu minha coluna vertebral de cima a baixo. Tudo isso
valia a pena investigar. E quando me veio a idéia de investigar me lembrei da expressão de
frustração de Roberto Grandison quando o gongo o chamou de volta à classe. Me lembrei como
olhara atrás sobre o ombro ao sair obedientemente do corredor e decidi que deveria ser incluído em
qualquer análise que eu fizesse desse pequeno mistério.
Mas eventos inesperados relacionados ao mesmo Roberto me fizeram logo esquecer o espelho
durante algum tempo. Passei toda aquela tarde fora e não voltei à escola até as 5:15h, hora duma
assembléia geral na qual a presença dos meninos era compulsória. Faltei a esse compromisso com a
idéia de levar Roberto a uma sessão com o espelho e fiquei surpreso e aflito ao ver que estava
ausente, algo muito incomum e irresponsável em seu caso. Naquela noite Browne me disse que o
menino desaparecera de fato. Uma procura em seu quarto, no ginásio, e em todos os lugares
habituais foi infrutífera. Entretanto todo seu pertence, inclusive sua roupa de sair, estavam no lugar
costumeiro.
Não fora encontrado no gelo ou com qualquer grupo excursionista que saíra naquela tarde. Todas
as chamadas telefônicas aos fornecedores da escola na vizinhança foram vãs. Realmente: Não fora
visto desde a última aula, às 2:15h, quando subiu a escada rumo a seu quarto no alojamento número
3.
Então foi dado como desaparecido, o que abalou todo o colégio. Browne, como diretor, teve de
suportar todo o peso. E tal ocorrência inédita em sua séria e muito organizada instituição o deixou
bem confuso. Estava ciente de que Roberto não voltara à casa dele, na Pensilvânia ocidental, e
nenhuma equipe de busca de meninos e mestres achou algum rastro dele na zona rural nevada ao
redor da escola. Portanto longe demais pra ser visto. Simplesmente tinha desaparecido.
Os pais de Roberto chegaram na tarde do segundo dia depois do desaparecimento. Suportaram a
dor com discrição, mas é claro que estavam abalados com esse desastre inesperado. Browne parecia
dez anos mais velho por isso, mas absolutamente nada se poderia fazer. No quarto dia o caso ficou,

na opinião da escola, como um mistério insolúvel. Senhor e senhora Grandison regressaram
relutantemente e na manhã seguinte começaram os dez dias de férias natalinas.
Os meninos e mestres partiram com qualquer coisa menos o habitual espírito de feriado. Browne
e sua esposa permaneceram, junto com os criados, como meus únicos co-habitantes no grande lugar
que sem os mestres e meninos, realmente, parecia uma concha oca.
Naquela tarde me sentei diante de minha lareira pensando na desaparição de Roberto e
desenvolvi todo tipo de teoria fantástica pra solucionar o caso. No crepúsculo tive uma enxaqueca e,
conseqüentemente, jantei frugalmente. Então, após um animado passeio na vizinhança da
concentração de prédios, voltei a minha sala de visita ficando novamente pensativo.
Um pouco depois das dez despertei em minha poltrona, duro e frio, dum cochilo durante o qual
eu tinha sido jogado fora. Estava fisicamente abatido, contudo mentalmente desperto por uma
sensação peculiar de expectativa e possível esperança. É claro que tinha a ver com o problema que
estava me desafiando. Porque eu tinha caído no cochilo distraidamente com uma idéia curiosa e
persistente: A estranha idéia de que um vago e dificilmente reconhecível Roberto Grandison
tentava, desesperadamente, se comunicar comigo. Fui à cama com uma intuitiva e forte convicção:
Dalguma maneira eu estava seguro de que o jovem Roberto Grandison ainda estava vivo.
Que eu seja receptivo a tais coisas não parecerá estranho a quem conhece minha longa estada em
Índias Ocidentais e meu íntimo contato ali com eventos inexplicados. Não se estranhará que eu
tenha dormido com um desejo urgente de estabelecer algum tipo de comunicação mental com o
menino desaparecido. Até mesmo os cientistas mais prosaicos, como Freud, Jung e Adler, afirmam
que a mente subconsciente está aberta a impressões externas durante o sono. Entretanto tais
impressões raramente são levadas em conta no estado desperto.
Indo um passo a diante e concebendo a existência de forças telepáticas, então tais forças têm
forte poder sobre a mente dormente. Portanto, se eu quisesse receber uma mensagem explícita de
Roberto seria durante um estágio de sono profundo. Claro que eu poderia perder a mensagem ao
despertar mas minha aptidão em reter tais coisas foi refinada por variados tipos de disciplina mental
recolhidos em ignotos recantos do globo.
Devo ter caído em sono instantaneamente. Da vivacidade de meus sonhos e ausência de intervalo
alerta julgo que meu sono era muito profundo. Eram 6:45h quando despertei e ainda retive certas
impressões que sabia terem vindo do mundo de psiquismo onírico. Estranhamente minha mente se
encheu com a visão de Roberto Grandison transformado num menino dum escuro azul citrino.
Roberto, desesperadamente, tentava se comunicar comigo por meio da fala com uma dificuldade
quase insuperável. Uma curiosa parede de isolamento espacial parecia se levantar entre ele e mim,
uma parede misteriosa, invisível que nos confundiu completamente.
Eu tinha visto Roberto como se a pouca distância. Mas, estranhamente, parecia estar bem a meu
lado ao mesmo tempo. Era maior e menor que na vida real. Seu tamanho, aparente, variando
diretamente, em vez de inversamente, à distância quando chegou e se retirou no curso de
conversação. Quer dizer, cresceu em vez de diminuir em relação a minha vista quando avançava ou
retrocedia, e vice-versa. Como se tivessem sido completamente invertidas as leis de perspectiva em
seu caso. Seu aspecto estava embaçado e incerto, como se faltasse silhueta bem definida ou
permanente e a anomalia de sua coloração e de sua vestimenta me confundiram totalmente no
princípio.
Nalgum ponto em meu sonho o esforço vocal de Roberto finalmente se cristalizou em fala
audível, embora uma fala de espessura anormal e estagnada. Durante um instante não pude entender
algo que disse. Até mesmo no atormentado sonho meu cérebro procurava uma pista donde ele
estava, o que quis contar e por que sua expressão vocal era tão desajeitada e ininteligível. Então,
pouco a pouco, comecei a distinguir palavras e frases. As primeiras já bastaram pra lançar meu
estado onírico na excitação mais selvagem e estabelecer certa conexão mental que eu não deixara
adquirir forma consciente por causa da absoluta inverossimilhança do que previamente implicava.
Não sei quanto tempo escutei essas palavras no intervalo de meu sono profundo mas horas
devem ter passado enquanto, estranhamente, o remoto narrador lidava com sua história. De lá foi
me revelado uma tal circunstância como não posso querer que outros acreditem sem uma evidência

mais cabal. Contudo eu estava bem preparado a aceitar isso como verdade, tanto no sonho como
após o despertar, por causa de meus contatos anteriores com coisas misteriosas. Obviamente o
menino estava me olhando no rosto, se movendo num sono receptivo, quando logo sufocou.
Durante algum tempo o pude compreender, então iluminou sua expressão e deu sinais de gratidão e
esperança.
Toda tentativa de entender a mensagem de Roberto, como essa que martelava em meus ouvidos
após um súbito despertar no frio, conduziu esta narrativa a um ponto onde tenho de escolher minhas
palavras com o maior cuidado. Tudo em questão é tão difícil de gravar que tendemos a nos debater
sem solução. Eu disse que a revelação estabeleceu em minha mente certa conexão que a razão não
me deixou formular conscientemente antes. Essa conexão, já não hesito afirmar, tem a ver com o
velho espelho de Copenhague cuja impressão de movimento tinha me impressionado tanto na
manhã da desaparição, e de cujos contornos ondulatórios e sucção aparente exerceram uma
inquietante fascinação em mim e Roberto.
Entretanto, minha consciência exterior tinha rejeitado o que minha intuição gostaria de ter
implicado antes. Não poderia rejeitar aquela espantosa concepção durante mais tempo. O que era
agora fantasia no conto de Alice1 me veio como uma realidade séria e imediata. Aquele olhar vítreo
possuía uma sucção maligna, realmente anormal. E o locutor lutando em meu sonho esclarecendo
até que ponto violou todos os anteriores conhecimentos de experiência humana e todas as leis
ancestrais de nossas três dimensões normais. Era mais que um espelho, era um portão, uma
armadilha, um vínculo com intervalos espaciais não significativos aos habitantes de nosso universo
visível, e só realizável em termos da mais complexa matemática não-euclidiana. E, de modo um
pouco ultrajante, Roberto Grandison tinha se escamoteado de nosso conhecimento no vidro e ficara
lá emparedado, esperando ser libertado.
É significativo que ao despertar não abriguei dúvida genuína da realidade da revelação. O que
realmente captei da conversação com um Roberto transdimensional, em lugar de evocar o episódio
inteiro de minha meditação sobre sua desaparição e sobre as velhas ilusões do espelho, era quase
certo pra minha natureza mais íntima como qualquer certeza instintiva reconhecida como válida.
A história que assim me foi descortinada tinha caráter inacreditavelmente estranho. Como ficara
bem claro na manhã de sua desaparição, Roberto ficou intensamente fascinado pelo antigo espelho.
Durante todo o período letivo tinha em mente voltar a minha sala de visita e examinar o objeto.
Quando chegou, no fim do dia letivo, um pouco depois de 2:20h, eu estava na cidade. Percebendo
minha ausência e sabendo que eu não notaria, entrou em minha sala de visita e foi direto ao espelho,
se postando diante dele e estudando o lugar onde, como notáramos, as ondulações pareciam
convergir.
Repentinamente foi tomado por um desejo de colocar a mão nesse centro ondulatório.
Quase relutando, contra seu bom-senso, agiu assim. Ao estabelecer contato sentira a estranha
sucção, quase dolorosa, que o desconcertara naquela manhã. Imediatamente, sem aviso mas com
um violento puxão que parecia torcer e rasgar todo osso e músculo e inchar, espremer e cortar todo
nervo, foi abruptamente sugado.
Chegando ali a torturante tensão nervosa em todo seu organismo se manifestou de repente.
Sentia, disse, como se há pouco tivesse nascido. Um sentimento que se tornava evidente toda vez
que tentava fazer algo: Caminhar, se inclinar, virar a cabeça ou falar. Todo seu corpo parecia
desajustado.
Essas sensações desapareceram depois dum longo tempo e o corpo de Roberto se tornou um todo
organizado em vez de várias partes conflitantes. De todas as formas de expressão, falar continuou
sendo a mais difícil. Certamente porque é complexa e usa vários órgãos, músculos e tendões. Por
outro lado, os pés de Roberto foram os primeiros elementos a se ajustar à nova condição dentro do
vidro.
1 Se referindo a Alice através do espelho, de Lewis Carrol.

Na manhã matutei o quebra-cabeça. Relacionando tudo que vi e ouvi rejeitei o ceticismo natural
dum homem de bom-senso e concebi planos pra resgatar Roberto de sua incrível prisão. Quando fiz
isso vários pontos então desconcertantes ficaram claros ou, pelo menos, mais lúcidos pra mim.
Havia, por exemplo, a questão da coloração de Roberto. Sua face e mãos, como indiquei, eram
dum tipo de azul escuro esverdeado esmaecido. E posso acrescentar que sua comum jaqueta
Norfolque azul tinha passado a um amarelo-limão pálido enquanto sua calça comprida permaneceu
cinza neutro como antes. Pensando nisso, depois de acordar, aproveitei a circunstância de
encerramento aliada à inversão de perspectiva que fez Roberto parecer maior se afastando e menor
se aproximando. Aqui também havia uma reversão física: Pra todo detalhe de sua coloração na
dimensão desconhecida o exato oposto ou complemento cromático correspondia ao que era em vida
normal. Em física as cores complementares básicas são azul e amarelo, vermelho e verde. Esses
pares são opostos e, quando misturados, resultam em cinza. A cor natural de Roberto era uma pele
meio rosada, cujo oposto é o azul citrino que vi. Seu casaco azul tinha ficado amarelo enquanto a
calça comprida cinza permaneceu cinza. Esse ponto posterior me confundiu até que me lembrei que
aquele cinza é uma mistura de opostos. Não há oposto ao cinza, ou melhor, é seu próprio oposto.
Outro ponto claro era o pertinente à voz estranhamente grossa e abafada de Roberto, bem como
ao geral mau-jeito e sensação de desajuste físico das partes das quais se queixava. Isso, no início,
realmente era um quebra-cabeça. Entretanto, depois de pensar bastante, encontrei a pista. Eis,
novamente, a mesma inversão de perspectiva e coloração. Qualquer um na quarta dimensão,
necessariamente, seria invertido somente desse modo: Mãos e pés, como também cores e
perspectivas, sofrendo mutação simétrica. Seria o mesmo com todos os outros órgãos duplos como
narinas, orelhas e olhos. Assim Roberto teria falado com uma língua invertida, dentes, cordas vocais
e órgãos vocais semelhantes. De forma que sua dificuldade em expressão vocal me deixou um
pouco admirado.
No despontar da manhã meu senso de ampla realidade e louca urgência da situação de revelação
onírica aumentou em vez de diminuir. Cada vez mais eu sentia que algo devia ser feito. Contudo
percebi que eu não poderia buscar conselho ou ajuda. Numa história como a minha uma convicção
baseada no mero sonhar nada poderia me trazer de verossímil, apenas zombar ou suspeitar de meu
estado mental. Realmente, o que eu poderia fazer, amparado ou desamparado, com os poucos dados
operacionais que minha impressão noturna fornecera? Devo, reconheci finalmente, obter mais
informação antes de pensar num plano pra resgatar Roberto. O que só poderia se passar na condição
receptiva de sono e que me encorajou a refletir sobre isso. Como era altamente provável, meu
contato telepático foi retomado no momento em que novamente caí em sono profundo.
Passei dormindo aquela tarde, depois dum almoço no meio-dia a qual, por rígido autocontrole,
consegui esconder de Browne e sua esposa os tumultuosos pensamentos que me chocaram. Com
dificuldade mantive meus olhos fechados quando uma turva imagem telepática começou a aparecer.
E logo percebi, em minha infinita excitação, que era idêntica à que vira antes. Mais que isso: Era
mais distinto. Quando começou a falar me senti capaz de captar mais palavras.
Durante esse sono confirmei a maioria das deduções matinais. Entretanto a entrevista fora
misteriosamente suprimida antes de meu despertar. Roberto parecera apreensivo logo antes da
comunicação cessar, mas já tinha me dito que em sua estranha prisão tetradimensional as cores e as
propriedades espaciais realmente estavam invertidas: Preto virar branco, distância que aumenta a
dimensão aparente, e assim a diante.
Também informara que, mesmo em plena posse da aparência física e sentidos, as mais vitais
propriedades humanas pareciam estranhamente suspensas. A nutrição, por exemplo, era
desnecessária. Fenômeno realmente mais singular que a onipresente inversão de objetos e
propriedades. Subseqüentemente era um racional e matematicamente específico estado de coisas.
Outra parte significativa da informação era que a única saída do vidro ao mundo era o a via de
entrada, mantida permanentemente barrada e hermeticamente fechada, tão remota quanto o egresso
temia que estivesse.
*Naquela noite recebi outra visita de Roberto. Nem deu tais impressões, recebidas a intervalos
ímpares enquanto eu dormia sugestionado, interrompidas durante todo o período de seu

encarceramento. Seu esforço pra se comunicar era desesperado e, freqüentemente, lamentável. Às
vezes o contato telepático se debilitava, enquanto noutras vezes fadiga, excitação ou medo de
interrupção dificultava e engrossava sua voz. Posso narrar muito bem uma seqüência contínua de
tudo aquilo que Roberto me disse ao longo de toda a série de efêmeros contatos mentais, talvez
suprindo certos pontos com fatos diretamente relacionados após sua libertação. A informação
telepática era fragmentária e, freqüentemente, quase inarticulada, mas a estudei repetidas vezes
durante os intervalos despertos de três intensos dias. Classificando e ponderando, com diligência
febril, passei a questionar se o rapaz seria devolvido a nosso mundo.
A região tetradimensional na qual Roberto estava não era, como num romance de ficção
científica, um reino desconhecido e infinito de visões estranhas e habitantes fantásticos mas tinha
muito duma projeção de certas partes limitadas de nossa própria esfera terrena dentro duma estranha
e, geralmente, inacessível faceta ou vetor espacial. Era um mundo curiosamente fragmentário,
intangível, e heterogêneo. Uma série de cenas aparentemente dissociadas onde se fundem
indistintamente uma na outra. Seus detalhes constituintes tinham uma natureza obviamente
diferente dos dum objeto sugado pelo antigo espelho quando Roberto fora sugado. Essas cenas eram
como sonhos panorâmicos ou imagens caleidoscópicas, miragens das quais o menino realmente não
era uma parte, mas que formavam um tipo de fundo panorâmico ou ambiente etéreo contra o qual
ou entre o qual se movia.
Não pôde tocar alguma das partes dessas cenas: Paredes, árvores, mobília, e similares. Se era
assim porque eram verdadeiramente imateriais ou porque sempre retrocediam a sua aproximação
estava singularmente impossibilitado de determinar. Tudo parecia fluido, mutável e irreal. Quando
caminhava parecia estar em qualquer superfície mais baixa a cena visível que poderia ter chão,
caminho, gramado verde, ou tal. Mas, em última análise, sempre achava que o contato era ilusão.
Nunca havia diferença na força resistente encontrada por seus pés e mãos quando se inclinava
experimentalmente. Não importa o que poderia estar envolvido na aparente mudança da superfície.
Não pôde descrever esse alicerce ou plano limite no qual andava como algo mais definido que uma
pressão virtualmente abstrata equilibrando seu centro gravidade. De precisa sensibilidade tátil nada
tinha mas, em compensação, parecia haver um tipo de força levitacional restrita que propiciava
transferência de altitude. De fato nunca poderia escalar degrau, contudo podia caminhar subindo
gradualmente.
A passagem duma cena definida a outra envolvia um tipo de vôo livre numa região sombreada
ou mancha borrada onde os detalhes de cada cena se encaixam curiosamente. Toda perspectiva era
distinguida pela ausência de objetos passageiros e o aparecimento indefinido ou ambíguo de objetos
semi-passageiros como mobília ou detalhes de vegetação. A iluminação de toda a cena era difusa e
desconcertante e, claro, o esquema de cores invertido: Grama vermelha luminosa, céu amarelo com
confusas formas de nuvens negras e cinzas, troncos de árvore brancos e paredes de tijolo verdes,
dava a tudo um aspecto incrivelmente grotesco. Havia uma alternância entre dia e noite que se
manifestava como uma inversão das horas normais de luz e escuridão em qualquer ponto na Terra
onde o espelho estivesse pendurando.
Essa diversidade, aparentemente irrelevante, das cenas confundiu Roberto até que percebeu que
incluíam apenas os lugares continuamente refletidos durante longos períodos no antigo vidro. Isso
também explicava a estranha ausência de objetos passageiros, os limites geralmente arbitrários de
visão e o fato de que todo o exterior foi emoldurado pelos esboços de portas ou janelas. O vidro,
parece, pode ter servido pra acumular essas cenas intangíveis por longa exposição. Entretanto nunca
poderia absorver qualquer coisa corpórea, como aconteceu a Roberto, exceto por um processo
muito diferente e particular.
Ao menos pra mim, o aspecto mais incrível do bizarro fenômeno era a escabrosa subversão de
nossas costumeiras leis espaciais envolvidas na relação de várias cenas ilusórias às atuais regiões
terrenas representadas. Falei do vidro como acumulando as imagens dessas regiões mas essa,
realmente, é uma definição inexata. Na verdade cada uma das cenas especulares formava uma
verdadeira e quase permanente projeção tetradimensional da região mundana correspondente, de
modo que sempre que Roberto ia a alguma parte de certa cena, como quando ia à imagem de meu

quarto enviando suas mensagens telepáticas, estava de fato naquele lugar, isto é, em terra, entretanto
sob condições espaciais que cortavam toda comunicação sensorial, em qualquer direção, entre ele e
o aspecto tridimensional vigente no local.
Hipoteticamente falando, o prisioneiro no vidro podia, nalguns momentos, ir a qualquer lugar em
nosso mundo. Qualquer lugar que alguma vez tenha sido refletido na superfície do espelho. Isso,
provavelmente, aplicado até mesmo a lugares onde o espelho nunca fora pendurado seria o bastante
pra produzir uma nítida cena ilusória. A região terrena era representada, então, por uma zona de
sombra mais informe. Fora das cenas bem definidas havia um desgaste aparentemente ilimitado de
sombra cinza neutra sobre o qual Roberto nunca poderia ter certeza e no qual nunca ousou vaguear
além pra não ficar desesperadamente perdido nos reais e especulares mundos similares.
Entre os apressados pormenores que Roberto deu havia o fato de não estar solitário na prisão.
Vários outros, todos em traje antigo, estavam lá com ele: Um corpulento cavalheiro de meia-idade
com trança amarrada e calção aveludado que falava inglês fluente com forte sotaque escandinavo,
uma menina pequena, muito bonita, com cabelo muito louro na forma dum lustroso azul escuro,
dois negros aparentemente mudos cujas características contrastavam grotescamente com a palidez
de sua pele cromaticamente invertida, três homens jovens, uma mulher jovem, uma criança muito
pequena, quase um bebê e um esquelético ancião dinamarquês de aspecto extremamente distinto e
com uma espécie de intelectualidade meio maligna no semblante.
Esse último indivíduo se chamava Axel Holm, trajando calção justo2 de cetim, casaco de borda
brilhante e volumosa e bem assentada peruca cuja idade remonta a mais de dois séculos. Era ilustre
na pequena região como sendo o responsável pela presença deles todos. Era que, versado tanto nas
artes de magia quanto de vidraçaria, tinha formado essa prisão estranha dimensional há muito
tempo, na qual ele, seus escravos e esses a quem escolheu convidar ou atrair até lá eram
permanentemente emparedados enquanto o espelho pudesse suportar.
Holm nasceu no começo do século 17 e teve muita competência e sucesso no comércio de
soprador e moldador de vidro em Copenhague. Seu vidro, especialmente na forma de grande
espelho de sala de visita, sempre estava em destaque. Mas a mesma mente pujante que fez dele o
primeiro vidraceiro de Europa serviu pra direcionar seu interesse e ambição além da esfera de mera
habilidade material. Estudara o mundo ao redor e se aborreceu com a limitação de capacidade e
conhecimento humanos. Eventualmente procurou modos obscuros de superar essa limitação e
ganhou mais sucesso que o apropriado a qualquer mortal. Aspirara desfrutar algo como a
eternidade, e o espelho era sua ferramenta pra alcançar esse fim. O sério estudo da quarta dimensão
estava longe de começar com Einstein em nossa era e Holm, mais que erudito em todos os métodos
de sua época, sabia que uma entrada pessoal naquela faixa espacial escondida lhe impediria de
morrer na sensação física ordinária. Uma investigação lhe mostrou que a teoria da reflexão
indubitavelmente modela a entrada principal a todas as dimensões além da nossa familiar tri e a
sorte lhe colocou nas mãos um pequeno vidro muito antigo cujas propriedades secretas acreditava
que pudesse virar o jogo. Uma vez dentro do espelho, de acordo com o método que idealizara,
sentiria aquela vida na sensação de forma e consciência virtualmente pra sempre, contanto que o
espelho fosse preservado indefinidamente de rompimento ou deterioração.
Holm fez um espelho magnífico que seria valorizado e cuidadosamente preservado. E nisso
agilmente fundiu a estranha relíquia de forma espiralada que adquirira. Tendo preparado seu refúgio
e armadilha assim, começou a planejar seu modo de entrada e condição de aluguel. Teria consigo
serventes e companheiros. E como estréia experimental enviou antes de si ao vidro dois escravos
negros de confiança trazidos de Índias Ocidentais. Que sensação teve ao ver essa primeira
demonstração concreta de sua teoria só a imaginação pode conceber.
Indubitavelmente um homem com sua sabedoria percebe a ausência do mundo exterior, embora
transferido além do simples transcorrer de vida dos de dentro, deve significar instantânea dissolução
na primeira tentativa de voltar àquele mundo. Mas, salvo aquele contratempo ou uma ruptura
2 Usado no século 18

acidental, os internos sempre permaneceriam como eram na hora de entrada. Nunca ficariam velhos
nem precisariam de comida e bebida.
Pra fazer sua prisão mais tolerável enviou à frente certos livros e materiais de escritório, uma
cadeira e mesa artesanais mais robustas e outros acessórios. Soube que as imagens que o vidro
refletiria ou absorveria seriam intangíveis, mas somente se estenderia a seu redor como um fundo
onírico. Sua própria transição, em 1687, foi uma dura experiência e há de ter sentido um misto de
triunfo e pavor. Se qualquer coisa tivesse saído errado havia a horrível possibilidade de se perder na
escuridão de inconcebíveis dimensões múltiplas.
Durante mais de cinqüenta anos estivera impossibilitado de fazer qualquer acréscimo à pequena
empresa de si mesmo e escravos, mas, mais tarde, aperfeiçoara seu método telepático de visualizar
pequenas seções do mundo externo perto do vidro e atraindo certos indivíduos nessas áreas pela
estranha entrada do espelho. Assim Roberto, querendo forçar a porta, fora atraído adentro. Tais
visualizações dependiam completamente de telepatia. Ninguém dentro do espelho poderia ver o
exterior, o mundo dos homens.
Era, na verdade, uma vida estranha a que Holm e sua companhia tinham dentro do vidro. Desde
então o espelho ficara completamente abandonado, durante um século, com sua face voltada à
empoeirada parede de pedra do abrigo onde o achei. Roberto foi o primeiro ser a entrar nesse limbo
após esse intervalo. Sua chegada foi um evento de gala porque trouxe notícia do mundo exterior, o
que deve ter causado grande espanto ao mais pensativo dos de dentro. Ele, na volta, jovem como
era, inevitavelmente sentiu a fantasmagoria de se reunir e falar com pessoas que estavam vivas nos
séculos 17 e 18.
A mórbida monotonia da vida dos prisioneiros só pode ser vagamente conjeturada. Como
mencionei, sua variedade de extensão espacial era limitada a lugares que tinham sido refletidos no
espelho durante longos períodos. E muitos desses locais se escureceram e ficaram estranhos quando
o clima tropical atacou a superfície. Certos locais eram luminosos e bonitos e nesses a companhia
costumava se juntar. Mas nenhuma cena poderia agradar totalmente, pois todos os objetos visíveis
eram irreais e intangíveis e, freqüentemente, de esboço desconcertantemente indefinido. Quando os
tediosos períodos de escuridão chegavam o costume geral era se deliciar em recordação, reflexão ou
conversação. Cada elemento daquele estranho e patético grupo retivera sua personalidade inalterada
e inalterável, já que fica imune aos efeitos temporais do espaço exterior.
O número de objetos inanimados dentro do vidro, aparte a roupa dos prisioneiros, era muito
pequeno, sendo limitados, em grande parte, aos acessórios que Holm provera pra si. Os demais
igualmente sem mobília, desde que sono e fadiga desapareceram junto com outros atributos vitais.
Tais coisas inorgânicas ali presentes pareciam isentas da decadência, assim como os seres vivos. As
mais inferiores formas de vida animal estavam ausentes.
Roberto deve a maioria da informação a Herr Thiele, o cavalheiro que falava inglês com sotaque
escandinavo. Esse digno dinamarquês me incitava a imaginação e falava muito. Os outros também o
receberam com cortesia e benevolência. O próprio Holm parecia bem-disposto e tinha lhe falado
sobre vários assuntos, inclusive a porta da armadilha.
O menino, como me disse depois, era sensato o bastante pra nunca tentar comunicação comigo
quando Holm estava perto. Duas vezes, fazendo isso, vira Holm aparecer e se interrompeu
imediatamente. Em nenhum momento pude ver o mundo atrás da superfície do espelho. A imagem
de Roberto, que incluía sua forma corporal e o respectivo vestuário era, como a imagem auricular
de sua voz sufocada e como me via, um caso de transmissão puramente telepática. Não envolvia
verdadeira visão interdimensional. Porém, Roberto era um telepata treinado como Holm e poderia
ter transmitido imagens consistentes separadas de sua pessoa adjacente.
Ao longo desse período de revelação eu tentava, desesperadamente, achar um jeito de libertar
Roberto. No quarto dia, nono depois da desaparição, achei uma solução. Afinal de conta meu plano
não era tão complexo. Mas não pude antecipar como agiria enquanto temesse a possibilidade dum
deslize desastroso. Esse processo dependia, basicamente, do fato de não haver saída possível de
dentro do vidro. Se Holm e seus prisioneiros estivessem permanentemente encerrados
hermeticamente, então a libertação teria que vir toda de fora. Outras considerações incluíram a

disposição dos outros prisioneiros, se algum sobrevivesse e, especialmente, de Axel Holm. O que
Roberto me contou sobre ele era tudo menos tranqüilizador. Certamente eu não o queria solto em
meu apartamento, livre pra fazer suas maldades no mundo mais uma vez. As mensagens telepáticas
não esclareciam direito o efeito da libertação nos que estavam no vidro há tanto tempo.
Entretanto havia um último, porém menor, problema no caso de sucesso: O de Roberto voltar à
rotina escolar sem ter explicado o inacreditável. No caso de fracasso seria desaconselhável ter
testemunha da missão de libertação e, fora isso, eu não podia me referir aos verdadeiros fatos,
mesmo se tivesse êxito. Até mesmo pra mim a realidade parecia uma loucura sempre que eu
ponderava os fatos tão coercitivamente expostos naquela série onírica.
Quando refleti sobre esses problemas até onde era possível, peguei uma grande lupa no
laboratório escolar e estudei minuciosamente cada milímetro quadrado daquela espiral central que,
presumivelmente, marcava a dimensão do antigo espelho original usado por Holm. Até mesmo com
essa ajuda não pude localizar com precisão o limite exato entre a antiga área e a superfície
adicionada pelo mago dinamarquês, mas, depois, um exaustivo estudo definiu um limite oval
conjetural que esbocei com precisão com um lápis azul de ponta macia. Então fiz uma viagem a
Estanforde, onde arranjei uma pesada ferramenta corta-vidro. Minha idéia inicial era remover o
antigo e magicamente potente espelho de sua mais recente posição.
O próximo passo era achar a melhor hora do dia pra realizar a experiência crucial. Finalmente
escolhi 2:30h da manhã, tanto por ser um bom momento pra trabalho ininterrupto quanto ser o
oposto de 2:30h da tarde, provável momento da entrada de Roberto ao espelho. Essa forma de
oposição pode não ter sido pertinente mas eu sabia, pelo menos, que a hora escolhida era tão boa
quanto qualquer outra, talvez melhor que a maioria.
Finalmente decidi trabalhar no amanhecer do décimo primeiro dia após a desaparição, tendo
desenhado todos os tons de minha sala de visita e fechado a porta do corredor. Continuando com
ofegante cautela a linha elíptica localizei, tracei ao redor da seção espiral com minha ferramenta
cortante de aço giratória. O antigo vidro, com meia polegada de espessura, crepitou quebradiço sob
a firme e uniforme pressão. Ao completar o giro cortei ao redor novamente e raspei o cilindro mais
profundamente no vidro.
Então, cuidadosamente, ergui o pesado espelho pelo pedestal e o apoiei com a face interna contra
a parede, forçando duas das tábuas finas e estreitas pregadas na traseira. Com igual precaução dava
violentas estocadas no espaço ao redor com a pesada manivela de madeira do corta-vidro.
Na primeira pancadinha o pedaço de vidro contendo a espiral caiu no tapete de Bokhara. Eu não
sabia o que aconteceria, mas alguma coisa foi me animando e me deixou numa involuntária
respiração ofegante. Então me ajoelhei por comodidade. Minha face bem perto da abertura
recentemente feita. Ao tomar fôlego minhas narinas inalaram um forte odor de poeira. Um cheiro
incomparável, que nunca senti antes. Então tudo a meu alcance de visão se converteu, de repente,
num cinza fosco antes de minha vista falhar enquanto me sentia dominado por uma força invisível
que me roubou a vitalidade muscular.
Me lembro de pegar debilmente e sem êxito a extremidade da mais próxima cortina de janela e a
senti rasgando e soltando da parede. Então afundei lentamente no chão com a escuridão do olvido
passando encima de mim.
Quando recuperei a consciência estava estirado no tapete de Bokhara com as pernas
misteriosamente apoiadas no ar. O quarto estava cheio daquele horrendo e inexplicado cheiro de
poeira. Como meus olhos começaram a captar imagens definidas vi que Roberto Grandison estava
em minha frente. Era ele, totalmente de carne e com coloração normal, que segurava minhas pernas
no alto pra devolver o sangue a minha cabeça como o curso de pronto-socorro da escola lhe tinha
ensinado a fazer com pessoa desfalecida. Num instante emudeci pelo odor sufocante e por uma
confusão que logo se fundiu numa sensação de triunfo. Então me senti capaz de me mover e falar
calmamente.
Tentei elevar uma mão e acenar cumprimentando Roberto.
― Certo, meu velho. ― Murmurei ― Podes abaixar minhas pernas agora. Muito obrigado.
Acertei novamente, acho. Era o cheiro, imagino. Isso me pegou. Abras aquela janela mais distante,

por favor, a larga, do fundo. Isso é tudo. Obrigado. Não. Deixes a sombra embaixo, do jeito que
estava.
Lutei com meus pés, minha circulação transtornada se ajustando em ondas, e permaneci
verticalmente suspenso na traseira duma cadeira grande. Eu ainda estava grogue, mas uma lufada de
ar fresco dolorosamente frio da janela me reavivou rapidamente. Me sentei na cadeira grande e vi
Roberto caminhando até mim. Eu disse apressadamente.
─ Primeiro me digas, Roberto: Esses outros... Holm. O que aconteceu a eles quando abri a saída?
Roberto interrompeu sua caminhada no quarto e me olhou com gravidade. Então disse
solenemente.
─ Os vi diminuir no vazio, senhor Canevin E, com eles, tudo. Nada mais há dentro, senhor.
Agradeço a Deus e a ti, senhor!
E o jovem Roberto, se rendendo, afinal, à tensão contínua que tinha agüentado durante esses
onze terríveis dias, repentinamente se abaixou como uma criancinha e começou a se lamentar
histericamente em grandes, sufocados e secos soluços.
O amparei e o recostei suavemente em meu divã, lhe coloquei um poncho3, me sentei a seu lado,
o acalmei passando a mão na testa e lhe disse ternamente:
─ Leves isso, meu velho.
A súbita e muito natural histeria do menino passou, tão depressa quanto viera, quando lhe reiterei
meus planos pra sua tranqüila volta à escola. O interesse na situação e a necessidade de esconder a
incrível verdade sob uma explicação racional extinguiu sua agitação como eu esperava. Então se
levantou impacientemente, contou os detalhes de sua libertação e ouviu as instruções que eu
planejara. Parece que estivera na área projetada de meu quarto quando abri a saída e emergi
naquele verdadeiro quarto, quase não percebendo que estava fora. Ao ouvir uma queda na sala de
estar se precipitou até lá e me encontrou no tapete num desmaio encantado.
Devo mencionar apenas brevemente meu método de restabelecer Roberto dum modo
aparentemente normal. Como o escamoteei janela a fora com um chapéu velho e suéter meus, o
levei até a estrada partindo silenciosamente em meu carro, o ensaiei cuidadosamente numa estória
que inventei e voltei pra despertar Browne com as notícias da descoberta de Roberto. Estava,
expliquei, caminhando solitário na tarde da desaparição. Dois homens jovens que, gracejando e ante
os protestos de que não poderia ir a lugar mais distante que Estanforde e voltar, o levaram de volta à
cidade. Saltou do carro durante uma parada de tráfego com a intenção de voltar a pé enquanto o
incitavam a voltar e foi atropelado por outro carro no instante em que o tráfego foi liberado,
despertando dez dias depois em Greenwich, na casa das pessoas que o atropelaram. Ao saber a data,
acrescentei, telefonei à escola imediatamente. Sendo eu o único que estava acordado, respondi à
chamada e corri pra o buscar em meu carro, sem parar pra avisar alguém.
Browne, que imediatamente telefonou aos pais de Roberto, aceitou minha história sem
questionar e evitou interrogar o menino por causa do óbvio esgotamento subseqüente. Ficou
combinado que deveria permanecer na escola pra descansar, sob o hábil cuidado da senhora
Browne, experiente enfermeira formada. Claro que o vi durante o restante das férias de Natal e pude
preencher certas lacunas em sua fragmentária história onírica.
De vez em quando quase duvidávamos da realidade do que acontecera. Querendo saber se ambos
compartilhamos uma monstruosa ilusão nascida do reluzente hipnotismo do espelho e se o conto do
passeio e acidente não são, afinal de conta, a realidade. Mas sempre que fizermos assim
recuperaremos a convicção nalguma formidável e assombrosa memória. Comigo da forma onírica
de Roberto e sua voz grossa e cores invertidas. Com ele de todo o esplendor fantástico de pessoas
antigas e cenas funéreas que testemunhara. E então havia analogia com a lembrança daquele
detestável odor poeirento. Sabíamos o que significava: A dissolução imediata dos que entraram a
uma dimensão alienígena há mais de um século.
3 Em todos os dicionários rug só consta como tapete, alfombra. Uma busca a imagem no Google mostrou, nesta figura,
Chey in the rug, que é também poncho.

Além do mais há duas linhas de evidência, pelo menos, bem mais positivas. Uma das quais vem
de minhas pesquisas nos anais dinamarqueses sobre o feiticeiro Axel Holm. Como indivíduo,
realmente, deixou muitos traços no folclore e registros escritos. E diligentes pesquisas em
bibliotecas e conferências com dinamarqueses instruídos derramaram muito mais luz em sua má
fama. No momento só preciso dizer que o soprador de vidro de Copenhague, nascido em 1612, era
um luciferino notório cujas perseguições e final desaparição foram assunto de espantoso debate há
mais de dois séculos. Tinha ardente desejo de saber todas as coisas e dominar todo limite do gênero
humano. Pra tal finalidade investigara profundamente campos ocultos e proibidos desde que era
criança.
Era habitualmente adepto duma confraria da temida bruxaria e a vasta tradição da antiga
mitologia escandinava com o astuto Loki e o amaldiçoado lobo Fenris, era, pra ele, um livro aberto.
Tinha estranhos interesses e objetivos, poucos dos quais eram definitivamente conhecidos mas
alguns dos quais foram reconhecidos como intoleravelmente maus. Consta que seus dois ajudantes
negros, originalmente escravos de Índias Ocidentais Dinamarquesas, ficaram mudos após serem
adquiridos por ele e que os desaparecidos não queriam mais que sua própria desaparição do alcance
de vista da humanidade.
Chegando o fim duma já longa vida a idéia dum vidro da imortalidade deve ter lhe ocorrido. Que
adquirira um espelho encantado de inconcebível antigüidade era um assunto de cochicho popular.
Supôs-se que o furtara dum colega feiticeiro que lho confiara pra polir.
Esse espelho, segundo contos populares um troféu tão potente a seu modo como a notória égide
de Minerva ou o martelo de Tor, era um pequeno objeto oval chamado vidro de Loki, feito dalgum
mineral polido fundível e tendo propriedades mágicas que incluíam a adivinhação do futuro
imediato e o poder de revelar os inimigos do dono. Que tinha propriedades potenciais mais
profundas realizáveis nas mãos dum mago erudito nenhuma pessoa comum duvidava. Até mesmo
as pessoas educadas davam uma terrível importância aos boatos de que Holm o tentava incorporar a
um vidro maior de imortalidade. Então ocorreu a desaparição do mago, em 1687, e a venda final e
dispersão de seu bem entrou numa crescente névoa de lendário fantástico. Era tudo apenas um conto
ridículo se não se possuísse alguma chave específica. Contudo, me lembrando dessas mensagens
oníricas e tendo a corroboração de Roberto Grandison antes de mim, confirmei todas as
desnorteantes maravilhas que se desdobraram.
Mas como eu disse, há outra linha de evidência bem positiva, de caráter muito diferente, a minha
disposição. Dois dias depois de sua libertação, à medida que Roberto melhorava muito em força e
aparência, estava colocando lenha em meu fogo da sala de estar, notei certo desajeitamento em seu
movimento e fui acometido por uma idéia persistente. O chamei até minha escrivaninha e lhe pedi,
de repente, que apanhasse um tinteiro. Me surpreendi ao notar que, apesar da destreza vitalícia,
obedeceu inconscientemente com a mão esquerda. Sem o alarmar pedi, então, que desabotoasse o
casaco e me deixasse ouvir o batimento cardíaco. O que achei ao auscultar o tórax, e o que não lhe
contei depois, durante algum tempo, era que seu coração batia no lado direito.
Entrara ao vidro destro e com cada órgão na posição normal. Agora era canhoto e com os órgãos
invertidos e continuaria, indubitavelmente, assim ao resto da vida. Obviamente, a transição
dimensional não foi ilusão. Essa mudança física era tangível e inconfundível. Tinha lá uma saída
natural do vidro. Provavelmente Roberto sofreu uma re-reversão completa e teria emergido em
normalidade perfeita, como realmente o padrão cromático de seu corpo e vestuário emergiram. Mas
na natureza forçada de sua libertação, indubitavelmente, algo saiu errado. De modo que a dimensão
já não tinha chance de se corrigir como as ondas cromáticas.
Eu não tinha aberto apenas a armadilha de Holm. A tinha destruído. E na fase particular de
destruição marcada pela fuga de Roberto algumas propriedades reversas tinham se deteriorado. É
significativo que na fuga Roberto não sentira dor comparável à que experimentara entrando. Se a
destruição ainda tivesse sido mais súbita, eu tremia só de pensar nas aberrações cromáticas que o
menino fora forçado a suportar. Posso acrescentar que depois de descobrir a inversão de Roberto
examinei o amarrotado e descartado vestuário que usara no vidro, e achei, como esperava, uma
reversão completa de bolso, botão e todos os outros detalhes correspondentes.

Neste momento o vidro de Loki, exatamente como caiu em meu tapete de Bokhara do agora
consertado e inofensivo espelho, pesa sobre um maço de papel em minha escrivaninha aqui em São
Tomás, venerável capital de Índias Ocidentais Dinamarquesas, agora Ilhas Virgens americanas.
Vários colecionadores do antigo vidro de Sanduíche4 o confundiram com uma curiosa peça daquele
primitivo produto ianque mas imagino que meu peso de papel é uma antigüidade de extrema
sutileza e da mais paleogênea5 arte. Até agora não desiludi esses entusiastas.

só coloquei o conto de H.p lovecraft como exemplo,mande suas ilustrações, seus contos e até videos que conte alguma historia para carlosgall2003@yahoo.com.br, e eu colocarei aqui, como fiz com este conto.


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Eu faço roteiro de curta,média, longa metragem, de teatro e de revistinhas, se você quiser me contratar este é o email de contato carlosgeovanni@gmail.com

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O medo do Alpinista

autor:Helder Nascimento

Certo dia existia um alpinista que escalava as mais altas montanhas do mundo!

Ele não tinha medo de nada e a altura pra ele não era considerado um problema!

Escalava as montanhas em questão de segundos, para ele não havia nada melhor do que sentir o ar puro e o "friozinho" que só o pico de uma montanha o proporcionava!

Tinha ganhado vários troféus, premiações e já era conhecido mundialmente por ser o "homem aranha das montanhas".Sua habilidade era aplaudida por todos!Como um homem escalava montanhas com tanta facilidade e sem sentir nenhum medo?!Em todos esses anos de sucesso, nunca havia acontecido nenhum acidente com ele, suas escaladas eram todas realizadas com perfeito sucesso!

Todas as noites, antes de dormir ele orava a Deus e sempre dizia em voz alta: "eu confio em Ti, mais do que em tudo e todos"!

E assim era sua vida, tinha uma família feliz, tinha fama e muito dinheiro!

Suas escaladas eram feitas pelo menos uma vez por semana, e como sempre, à noite ele dizia em voz alta: "eu confio em Ti, mais do que em tudo e todos"!



Até que em certo dia ele foi escalar um monte muito alto, que fica em uma região onde neva bastante!

Pela primeira vez, sentiu um pouco de medo, e mesmo assim, decidiu encarar uma das maiores e mais perigosas montanhas do planeta sozinho!O dia estava perfeito, nada podia dar errado!



Ele começou a subir, subir, e subir!A montanha parceia que não tinha mais fim até que ele conseguiu chegar ao topo da grande montanha!

Depois do grande feito conquistado e de se gloriar muito!Chegou a hora de descer a montanha!

E infelizmente o tempo não estava a seu favor!

Uma tempestade de neve atingiu a montanha e o seu redor no meio da volta do alpinista para o chão, o dia que era pra ser um dia ensolarado, se tornou preto!O céu ficou escuro e nublado, e a tempestade continuou!



Não dava pra voltar e ... também não dava pra continuar!

A tempestade estava muito forte que o impedia de continuar a escalada!Olhava pra baixo e não consegui enxergar nada, o tempo estava preto, com muita neblina, parceia que ele tinha perdido a visão!

De repente o desespero tomou conta da situação e aquele alpinista mundialmente conhecido por ser corajoso e valente, estava tremendo de desespero e medo!



Sozinho em uma montanha começou a lembrar que tinha uma família pra cuidar!

E seus filhos!Como seria a vida deles daqui pra frente, sem o pai?

O que fazer, em estado de profundo desespero? Restou-lhe chorar amargamente!

Naquela hora, a unica coisa que lembrou em fazer era clamar ao Deus em que ele dizia que confiava mais do que tudo e todos!


Começou a gritar: "Deus!Deus!Me ajuda!"

Os gritos ecoavam em meio aquele imenso vazio escuro de céu e nuvens carregadas!

E continuou a gritar cada vez mais alto: "Deus!Deus!Eu preciso de Ti!Me ajude!Por favor!"


E eis que nos meio dos gritos de dor e desespero surge uma voz branda dizendo: "Calma e solte a corda!"

Levou um susto!Como Deus estava falando isso para ele?Soltar a corda?Mas como?

A morte seria mais do que certa!Ele despencaria no chão e morreria na hora!

E voltou a dizer: "O que?Eu não posso soltar a corda!Eu vou morrer!Faz alguma coisa logo!Aqui tá fazendo muito frio!Me ajuda!"

E eis que a voz apenas repetiu: "Calma e solte a corda!"

O alpinista pôs se a murmurar e a reclamar do que Deus estava dizendo!

A unica explicação para isso, era que Deus queria o ver morto!

Continuou a dizer: "Deus!Me ajuda!Por tudo que é mais sagrado, me ajuda!"

E a voz apenas pôs se a dizer: "Calma e solte a corda"!

Irritado e decepcionado, o alpinista blasfemou contra Deus e disse que ele era um Deus tirano, tinha depositado a confiança anos nele!E agora quando ele mais precisa, Deus o retribuiu com isso?

Decidiu apenas uma coisa!Segurou na corda!Esperou a morte chegar e infelizmente morreu congelado!

Depois de certo tempo, é descoberto o corpo do alpinista!

E uma surpresa!

Ele foi encontrado congelado segurando na corda que estava apenas meio metro do chão!


Este é o conto mandado pelo o Helder do Tartuga Comics, faça como ele mande suas ilustrações, seus contos e até videos que conte alguma historia para carlosgall2003@yahoo.com.br, e eu colocarei aqui, como fiz com este conto.


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