quarta-feira, 31 de outubro de 2012

SER

Autor:Vicente Gomes Pinto


O vento soprava forte e gelado naquela bela tarde de Maio. Havia poucas nuvens no céu, e o sol brilhava como poucas vezes durante esta época do ano, ao menos naquela cidade. Era o mês mais atípico dos últimos quarenta anos. Apesar de todos os problemas que estava enfrentando em sua vida, durante o já chamado Maio Solar, Richard encontrava-se no topo do seu prédio, onde trabalhava, aproveitando este dia descomunal. Ele costumava subir e ficar no terraço, sempre que tinha algum tempo livre, e seu melhor amigo, e sócio, William, geralmente o acompanhava em devaneios e conversas longas, que duravam várias horas após o expediente, muito melhor do que tomar cerveja com seus subordinados no centro de pesquisa. Entretanto, hoje Richard não estava acompanhado. Alguma coisa disse em seu inconsciente que ele deveria largar tudo o que estava fazendo, e ir para seu recanto refletir, mesmo sendo no meio da tarde, durante seu expediente. Já se passava algumas horas desde que ele subira, e embora não soubesse, ele estava sendo procurado.
De repente, a porta que dava acesso ao terraço abre, e apesar dele estar sentado de costas para a porta, Richard sentiu a presença de seu melhor amigo atravessando a passagem, e teve a confirmação quando a porta foi fechada com um pouco de delicadeza. Não demorou, e a voz de William chegou aos seus ouvidos:
– Aparentemente você está querendo ser demitido – Afirmou William, obviamente brincando, de forma que apenas Richard entenderia.
¬ – Engraçado, por que eu nem ao menos sei o que estou fazendo neste emprego... – Respondeu Richard, de forma bem humorada.
– O que faz aqui em cima Richard? Por que saiu de sua sala no meio do expediente, sem nem ao menos avisar? – perguntou Wiliam, com um pouco de preocupação em sua voz, apesar de demonstrar carinho por seu ouvinte.
– Eu acabei de lhe falar, não sei mais o que eu estou fazendo neste emprego. É por isto que estou aqui em cima, para refletir. Mas o que mais me assusta e me preocupa neste exato momento é como eu cheguei aqui em cima. Sinto como se algo me trouxesse para cá, como se eu devesse lhe revelar algo – Responde Richard, com uma leve preocupação em sua voz, mas estranhamente estava se tornando serena e constante.
– Como assim, Rick? Este é o emprego dos nossos sonhos, como nós sempre planejamos, desde pequenos. Parceiros. – Indagou William, confuso e preocupado com o que acabara de ouvir. – O que está acontecendo contigo? E como assim revelar algo?
– Bill, este é o emprego do SEUS sonhos, e foram meus, até recentemente. Meus objetivos de existência mudaram. Eu sinto como se nada disso me acrescentasse algo como ser humano. Não me sinto completo com toda esta riqueza que nós geramos, através da corrupção dos nossos ideais em prol de um benefício próprio. Caroline também não compreende o que estou pensando ultimamente. Qual é o sentido da vida, em que estamos preso e fadados ao término? – Indagou Richard, sempre mantendo o tom sereno que havia se estagnado em sua voz.
– E... Ee... Eu... – Gaguejou William, perplexo. Ele não conseguia compreender o que seu amigo acabou de falar e nenhuma outra palavra ousou sair de sua boca, ao menos naquele momento.
– Não precisa responder – Continuou Richard, sempre sereno – Só peço que escute. Há muito mais do que matéria tridimensional neste universo, Bill. Nós somos físicos, e sabemos um pouco melhor do mundo que o resto da população mediana. Esta nossa empresa, baseada na pesquisa de novas fontes de energia, através de anti-matéria e outros métodos mais eficientes, além de abertura de novos horizontes para as próximas gerações. O que nós fazemos deveria ser livre, mas nós nos corrompemos ela ganância e a avareza. Nós somos maiores do que isso, somos muito mais do que matéria, Bill. Nós somos consciências, presas em corpos tridimensionais, para que possamos nos desenvolver, criar, explorar. Eu estou falando da verdadeira essência de ser. – Um breve momento de silêncio fez-se entre os dois amigos.
– Do que você está falando, Richard? – Disse William, assustado e incrédulo, mas recuperado do discurso do amigo após este momento de silêncio. – Você só pode estar brincando! Você está enlouquecendo! Me diga que não está se drogando!?
Richard apenas sorriu do breve momento de incredulidade de seu amigo, mas isto não abalou. Pôs-se de pé e começou a caminhar pelo terraço, e logo retomou seu discurso: – Eu sabia que você não compreenderia, por isso pedi para que apenas escutasse, e não para que concordasse ou compreendesse, ao menos não neste primeiro momento. Não se preocupe, haverá tempo para que tudo o que estou lhe contando faça sentido para você. Por via das dúvidas, há um pequeno gravador, logo ali. – E apontou para o local onde estava sentado anteriormente – Peço que você guarde para consigo, para relembrar este momento, antes de sua morte.
William permaneceu no lugar em que estava. Via o amigo caminhar pelo terraço, por entre os aparelhos do edifício, indo em direção à borda. Não conseguia esboçar qualquer reação após termino desta parte. Ao perceber isto, Richard apenas continuou sua tese.
– Bill, fazem quatro dias que eu não durmo direito. Caroline até brigou comigo por conta disto, mas nada importa mais. Tornei-me algo maior, um ser completo, em termos de existência. Estou prestes a tocar as outras dimensões, e deixar nosso mundo material e tridimensional. Nestes últimos dias, desde que tive a revelação, eu tenho achado que é injusto eu guardá-la para mim, talvez seja por isto que minha mente fez com que eu subisse para cá, e dividisse isto contigo. Há alguns anos, nós testamos os portais para outras dimensões, uma teoria que há muito nós tínhamos dado continuação nos estudos, creio que você lembra. Na época, nós interrompemos o projeto por falta de conclusões, e este foi nosso maior erro, provavelmente. Se tivéssemos persistido mais um pouco, creio que teríamos conquistado um dos maiores feitos da humanidade, mas como nós não sabíamos o que faltava, nós paramos. É aí que entra minha revelação. – Richard fez uma breve pausa, e viu William o seguir para o parapeito do terraço.
– Eu descobri que nós já pertencemos à outra dimensão, Bill. Não sei lhe explicar qual delas é, se é a quinta ou qual das outras vinte e seis que acreditamos que existam. A nossa consciência faz parte deste espaço, e nele há outras entidades, e um ser supremo, que eu acredito que seja Deus, uma grande consciência que está em contado com todas elas ao mesmo tempo, você pode chamar de consciência coletiva, ou consciência divina. Quando nosso corpo tridimensional perece, nós voltamos a atuar apenas neste antro, de volta ao ambiente na qual pertencemos originalmente. Quando estamos lá, nós cedemos nossas memórias e experiências para o coletivo e para todos, e voltamos à criar um novo corpo tridimensional, para que possamos evoluir quanto seres. – Ao terminar mais esta explicação, Richard virou-se para William, para encará-lo, com um discreto sorriso no rosto, de orgulho. Ao ver que o amigo ainda estava boquiaberto, ele voltou a terminar seu discurso:
– Espero que você tenha compreendido o que eu acabei de falar, pelo menos esta parte de que nós estava,os certos sobre as outras dimensões. – Richard tentou acalmar William, e continuou: – Eu sei que você está me achando louco, mas meu artigo e meus cálculos estão todos em minha sala, completos. Eu gostaria que você lesse e publicasse ele, para que todos tenham este conhecimento. – De repente, sua voz começou a soar levemente melancólica, mas ainda apresentada a característica de serenidade, que apresentou desde o começo da conversa.
– O que você vai fazer, Rick? – Disse William, apreensivo e nervoso com a situação, prevendo o que estava por vir. – Por que você irá se suicidar? Por que desta forma?
– William, eu sou um físico renomado, assim como você. É mais do que justo que eu vá investigar minha descoberta, é a curiosidade científica. – Richard voltou-se novamente para a rua, e subiu em cima do parapeito do terraço. – Você adivinhou, vou me "suicidar", e não vou ao mesmo tempo. Você sabe que eu nunca acreditei em Deus, mas meus cálculos não estão errados. Eu vou de encontro a ele.
— Mas como você irá para esta outra dimensão, Rick? Nós nunca chegamos à conclusão nenhuma em nossos estudos. ¬– Reclamou William, com lágrimas nos olhos ao presenciar sua impotência. Agora ele começava a compreender o que estava acontecendo ali, apesar de acreditar que era apenas um suicídio.
–Bill, há uma forma de atravessar o limiar desta dimensão para a próxima, e eu irei ter sucesso. Eu só peço um ultimo favor, diga a Caroline que eu sempre amei ela, desde que a vi pela primeira vez. Cuide dela, para que nada lhe falte. Obrigado por tudo meu bom amigo... Adeus...
Richard abriu os braços, e deixou seu corpo cair. William entrou em desespero, não conteve suas lágrimas, e tentou agarrar a mão de seu amigo, mas não obteve sucesso. Bill viu o corpo de Rick despencar ao lado do prédio, e antes de atingir o solo, houve um grande clarão, como se um artefato nuclear explodisse, e nada mais foi visto, nenhum corpo. Richard uniu-se à consciência divina.

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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Asa de Fada

Autor:Ricardo Dario
Enquanto uma folha girava e pendia solta embriagada nos passos do vento, o som dos galhos rangendo e um crocitar ao longe moldava o escuro da noite, mais escura que o costumeiro, sem lua ou estrelas, apenas com as pesadas nuvens de chumbo marchando lentamente pelo véu noturno.
Sentia as gotas pesadas batendo no casaco e nas abas do chapéu, meio desconfortável com a lama prendendo os sapatos toda hora, andar no descampado na frente de uma tempestade e com algo oprimindo minha vontade era meu último desejo para esta noite, eu não precisava ter de caminhar tanto, mas o carro ia ser muito barulhento e as luzes iam chamar a atenção, precisava ser calmo e esperar a chuva e uma chance de entrar no galpão.
Três sombras caminhavam calmamente pela sacada de madeira contornando os lados e os fundos da estrutura, uma porta pesada de ferro estava trancada com uma corrente envolvendo duas grandes alças como um enorme cadeado enferrujado. As sombras paravam e conversavam umas com as outras, pediam fogo e acendiam cigarros, tomava algo de uma garrafa de vidro escuro, com metade sua escondida por um saco de papel. Depois de dar a volta no galpão e quase perder os sapatos atolados da lama, a chuva deu uma trégua e resolveu só acariciar de leve meu casaco e lembrar que meu chapéu estava pesado.
Uma das sombras decidiu sumir atrás de uma porta na lateral onde as luzes eram mais fracas e se podia ver o cintilar de toda a cidade, como um sonho perdido no meio da madrugada, talvez como os meus que me empurravam a entrar no meio do nada para procurar algo tão estupido.
Aqui as coisas começam a ficar estranhas.
Assim que os garfos celestes pararam de iluminar o céu, um barulho bem menos imponente quebrou a canção da chuva nas telhas e nas poças, uma porta rangendo devagar e abrindo com cautela, as botas batendo encharcadas nas tabuas e deixando marcas escuras de água e lama, e depois de algum tempo desaparecendo e se mesclando com a quietude escura do armazém.
O que aconteceu foi um momento para se acostumar com as pequenas fontes de luz espalhadas, monitores, cigarros e uma luz amarela que piscava apontando em um fecho sem nada para iluminar. Andando por entre as colunas de madeira um cheiro forte de algo doce e suave impregnou meu casaco e deu a sensação de calor, segui o aroma com cautela até chegar a um poço de pedra, e uma luz forte brilhava no fundo dele.
O barulho de algo brusco se movendo e a ponta escura que atravessou meu casaco e meu peito foi quase uma das ultimas coisas de que me lembro, levantado dois palmos do chão, fui atirado como um boneco de pano no poço e comecei a cair em direção a luz, se não morre-se pelo ferimento a queda faria um bom trabalho ainda, mas senti um leve puxão no rasgo nas costas do casaco e minha queda se suavizou, mas só consegui ver a copa de uma arvore e uma sensação de mergulhar em uma banheira de água morna, e tudo se apagou com um barulho que de longe lembrava um leve bater de asas.

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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A BATALHA FINAL

Autor:Mateus Henrique
Gyrulien olhou para o céu, que estava negro, depois olhou para frente, vendo o campo de batalha. Ali restavam poucos aliados e inimigos lutando e mais a frente o fim da guerra o estava esperando. O Cavaleiro saiu em disparada com o seu cavalo, matando alguns inimigos pelo caminho, quando finalmente chegou ao seu verdadeiro inimigo. Parado ali estava Harthel, O Terrivel, montado em seu cavalo e empunhando uma gigantesca espada de duas mãos.Gyrulien o encarou, e partiu em direção a batalha. Com sua espada de uma mão e meia, no primeiro choque das espadas Gyrulien se sentiu amedrontado, mas depois de alguns golpes trocados os dois estavam no mesmo nível. Depois de um tempo um atacando e o outro defendendo, Harthel tentou outra tática, desferindo um golpe contra o cavalo de Gyrulien, acertanto assim, o pescoço do cavalo, derrubando-o no chão, Gyrulien se pois de pé encarando seu inimigo, que desceu do cavalo pra tornar o combate justo. Harthel novamente levou a vantagem inicial pelo tamanho de sua espada, e novamente Gyrulien se adaptou ao combate. Gyrulien criou uma vantagem por sua espada ser menor e menos pesada, ele ficou mais rápido que Harthel. O duelo continuou equilibrado, até o momento em que Harthel desferiu um golpe alto e frontal contraGyrulien, mas este se esquivou rolando para a esquerda e em seguida desferiu um golpe no pescoço do seu adversiario, que conseguiu desviar o golpe no último instante com o punho de sua espada, e em seguida desceu sua espada com toda a velocidade, arrancando o braço esquerdo de Gyrulien. Gyrulien lançou um grito de agonia que ecoou por todo o campo de batalha, quando o grito se dissipou e o silêncio voltou ao campo de batalha, Gyrulien se levantou com um pouco de dificuldade, mas havia um brilho no seu olhar, ele apontou a espada para o cavaleiro negro e disse - Você vai morrer monstro desprezível. E com suas últimas forças correu em direção ao seu inimigo. Enquanto Gyrulien se aproximava Harthel tentou atingir suas pernas, mas ele pulou e cravou a espada no pescoço do cavaleiro, que morreu. Neste momento o céu esclareceu e Gyrulien caiu ao lado de seu maior inimigo, morto. Toda a paz retornou para aquele reino.

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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Nenhum Homem está Acima da Lei

Autor:Daniel Rossi
A ante-sala do tribunal era fria. Do lado de fora, o batalhão de fotógrafos se acotovelava para conseguir uma imagem, nem que fosse através de uma fresta. O meirinho tentava organizar o caos, sem sucesso. Sentado em uma poltrona posicionada estrategicamente para lhe dar o mínimo de privacidade, o réu aguardava pacientemente a hora que o recesso do júri terminasse e ele finalmente recebesse o veredicto. Aquela situação beirava o surreal para ele. Nunca esperava estar deste lado da lei, sendo julgado e exposto. Sabia que nenhum de seus companheiros se sujeitaria aquilo. Mas esta sua postura era exatamente o que o fazia diferente.

O motivo que o levará ao banco dos réus podia beirar o ridículo, se posto em perspectiva. Mas o que mais o deixava pensativo é que aquilo o incomodava há anos. Era um incomodo que ia e voltava, e surgia em sua mente quando ele menos esperava. Um erro cometido por um jovem tentando desbravar a cidade grande, e tentando conseguir um lugar ao sol. Mesmo ele tinha passado por aquela experiência, e mesmo que por motivos completamente diferentes da maioria, sentiu-se também inseguro. Sentia-se um estrangeiro, um imigrante. E aproveitara a oportunidade que tivera, tirando vantagem de seu segredo.

O barulho do lado de fora da sala chamou sua atenção. O alvoroço tinha dado lugar à voz de um policial que mandava os jornalistas se retirarem. O júri devia ter chegado a um veredicto, não demoraria muito agora. Sentiu uma leve brisa gelada, como se a janela atrás de si tivesse sido aberta. Quando se virou, porém, ela estava fechada. Ao voltar o rosto, estremeceu por instante com uma presença ao seu lado. Seu velho amigo fazia sempre questão de fazer isto com ele. E era o único que conseguia.

- Ainda não entendo por que você está fazendo isto. – A voz era rouca e grave.

- Eu preciso dar o exemplo velho amigo. Como ela está? – Não estava com paciência para se justificar mais. Estava mais interessado em saber como a esposa estava se virando.

- Diana está com ela. São as mais novas melhores amigas.

- Eu agradeço. A vocês dois.

- E eu cobrarei. – O velho amigo não perdia a oportunidade de alfinetá-lo, mas ele sabia que debaixo das camadas grossas da superfície havia um coração justo e fraterno. Mesmo que este não aparecesse com frequência.

- Eu sei… – fechou os olhos por um instante e esboçou um leve sorriso. Quando abriu os olhos de novo, o velho amigo havia ido embora, tão sorrateiramente quanto havia chegado.

Pouco depois escutou dois toques leves na porta. O meirinho abriu a porta, o rosto com uma expressão que ele não conseguia distinguir entre admiração ou receio. Ele o informou que o júri já estava pronto e que ele deveria se dirigir de volta a corte. O corredor estava vazio agora, e tudo o que havia sobrado do amontoado de jornalistas eram papéis caídos pelo chão.

- Eu nunca fiz este tipo de bagunça. – comentou olhando para o meirinho que andava ao seu lado. Este não respondeu, limitando-se a abanar a cabeça e soltar um sorriso nervoso. Ele abriu a porta da corte e ele entrou, dirigindo-se ao local reservado ao réu. Do outro lado da sala, o promotor o fitava com uma expressão de vitória. Aquela satisfação não duraria muito, pois seu velho amigo, o mesmo que acabara de visitá-lo, já tinha um dossiê completo das ligações dele com o crime organizado, e estava esperando, a seu pedido, que o julgamento acabasse para levá-lo a público. Pedira para ser assim, para que o resultado do julgamento não sofresse influências.

A porta atrás da bancada principal se abriu e o Juiz Marshall entrou. O plenário vazio, a seu pedido, ecoava seus passos. Sentou-se, fez um leve aceno com a cabeça para o meirinho para que este buscasse o júri. Os doze jurados entraram e se acomodaram.

- O júri chegou a um veredicto?

- Sim senhor juiz.

- Quanto à acusação de falsidade ideológica, qual o veredicto?

- Consideramos o réu culpado.

O veredicto não abalou o réu, na verdade ele já o esperava. O juiz Marshall deu um longo suspiro, meio que não acreditando que estava participando daquele circo. Pensou por alguns segundos e falou, dirigindo-se ao júri:

- Eu agradeço aos senhores do júri. Vocês estão dispensados. – Os jurados se levantaram e foram saindo lentamente, não sem antes aproveitarem para dar uma última olhada no rosto do réu.

- Antes de proferir a sentença, gostaria de esclarecer algumas coisas. A primeira, é que se registre que apesar da notoriedade do réu, este julgamento correu dentro de todos os trâmites legais. Segundo, que apesar desta denúncia ter partido de um membro conhecido do crime organizado desta cidade, isto não tira o mérito da causa.

Parou por um momento, fitou o promotor, que continha a euforia, com um olhar de desprezo e depois se voltou e olhou nos olhos do réu.

- Terceiro, que minha sentença não pode ser prejudicada pela história do réu, por mais relevante que ela seja. Isto posto, condeno o réu Kal-El, conhecido também como Superman, a seis meses de trabalhos comunitários, multa de dez mil dólares e a suspensão dos direitos de exercer a profissão de jornalista até que os fatos sejam julgados pelo Comitê responsável.

O som do martelo ecoou no salão vazio. O homem mais poderoso da Terra pagaria o preço pelo talvez único deslize que cometera na vida toda. Ter entrevistado a si mesmo para conseguir um trabalho no Planeta Diário.


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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A aventura do Ratinho Michel


autor: Daniel Rossi
França Ocupada, Novembro de 1943.

Já se passavam alguns minutos do horário do toque de recolher. Ele andava apressadamente, cortando caminho pelos becos. Havia perdido a noção da hora enquanto discutia os detalhes de seu livro com os amigos. Levava a primeira edição dele em um pacote de papel pardo, apertado contra o peito. Sua missão agora era escapar de seus dois maiores medos naqueles tempos obscuros: as patrulhas nazistas e a bronca da mulher, que deveria já estar impaciente em casa esperando-o para o jantar. Quando ele ouviu a ordem de parar, em um francês com forte sotaque alemão, esta segunda preocupação praticamente desapareceu de sua mente.

- Identifique-se. – O capitão alemão chefiava uma patrulha com mais dois soldados e o havia pegado no exato momento que ele emergia de um beco. A Luger P08 reluzia em sua mão, enquanto os outros dois soldados apontavam as MP-38.

- Me chamo Jean Michel Tissou, senhor. – O suor escorria-lhe pela têmpora, e tentava conter os tremores que lhe percorriam o corpo.

O capitão aproximou-se, colocou a mão por dentro do sobretudo de lã de Jean Michel e retirou de um dos seus bolsos alguns papéis, entre eles uma identificação que comprovava a sua identidade.

- O senhor sabe que deve se recolher no horário correto, não é monsieur? – Agora que o capitão estava mais próximo, conseguia ver-lhe o rosto, ele parecia o de um homem chegando a meia idade.

- Sim senhor, eu estava com alguns amigos conversando sobre o meu livro e acabei perdendo a noção do tempo. Eu peço perdão. – As palavras saíam trôpegas da boca. Nunca antes em toda a guerra tinha sentido tanto medo.

- Livro? – O capitão pareceu ter seu interesse despertado.

- Sim, senhor. Sou um escritor de contos infantis, e acabei de pegar a primeira edição de amostra de meu próximo livro.

- Ah, os franceses… Mesmo no meio de tanta morte e destruição ainda se preocupam com a arte. – O tom do Capitão era de clara ironia. Jean Michel não sabia o que responder e limitou-se a soltar um pequeno sorriso nervoso e deu de ombros. O nazista fitou-o de novo e perguntou – É ele que você carrega neste pacote?

- Sim, senhor. – Hesitou por um instante, mas em seguida viu que não havia outra opção do que deixar que o capitão nazista verificasse a autenticidade do fato. Estendeu lentamente o pacote. O nazista guardou a pistola e o tomou de sua mão. Desembrulhou o livro, rasgando o papel pardo que o envolvia.

- A aventura do Ratinho Michel. – Leu o título na capa. Folheou algumas páginas e parecia estar realmente lendo alguns parágrafos.

- O senhor tem filhos, oficial? – Tissou não sabia de onde havia arranjado coragem para a pergunta. O nazista o olhou meio que surpreso com a pergunta, mas mesmo assim respondeu.

- Um menino e uma menina… – a expressão do nazista parecia ter mudado repentinamente. A menção aos seus filhos parecia ter lhe trazido um ar de tristeza repentina. Tissou aproveitou o momento para dar uma cartada que poderia lhe valer a vida.

- Se anotar o seu endereço ai na capa do livro, posso providenciar que eles recebam um exemplar quando ele começar a ser impresso.

O nazista estava ainda mais surpreso. Ficou em silêncio por um instante, mas percebeu que os soldados que o acompanhavam começavam a ficar impacientes. Pareciam querer fuzilar logo o francês ou então liberá-lo e continuar a patrulha.

- Está bem. Apesar que eu duvido que você cumpra a promessa… – Pegou um lápis e anotou o nome do filho e da filha e o endereço. Tissou conseguia assim o que lhe parecia mais importante naquele momento: o exemplar de seu livro de volta. O capitão nazista aconselhou-o a ir direto para casa, pois alguma outra patrulha poderia lhe parar e não estar “tão interessada em literatura infantil”.

Tissou continuou o seu caminho apressadamente, sob o olhar da patrulha alemã que ficava cada vez mais ao longe. Caminhou cerca de mais três quadras. Demorou alguns minutos até que conseguisse parar de tremer e tivesse firmeza na mão para colocar a chave na porta e entrar em casa. A mulher lhe esperava aos berros, reclamando que estava preocupada e que o jantar já estava frio. Ela não fazia ideia da importância daquele livro para Tissou. E ele achava melhor assim.

Alto Comando Aliado – Alguns meses depois

O General Eisenhower acabou a xícara de café e se dirigiu para a sua mesa. Estava preocupado, pois as informações que precisava não chegavam, e isso poderia colocar a perder toda a enorme operação que vinha preparando em conjunto com os aliados há meses. Porém, naquela noite seria diferente. Um mensageiro veio andado apressado pelo corredor, com um envelope grande nas mãos. Bateu continência e entregou-o ao general, partindo em seguida.

O velho general abriu o envelope e retirou do seu interior um relatório e um livro. O livro se tratava daquela mesmo que Jean Michel Tissou carregava pelos becos franceses naquela noite meses atrás. Já o relatório era a tradução de todos os códigos que haviam vindo no livro, e que forneceriam material de inteligência crucial para que ele pudesse levar a cabo a maior operação militar da história da humanidade.

Epílogo:

Alemanha Oriental, meses após o final da guerra.

Hans e Ethel Schneider não tinham muitas alegrias desde o final da guerra. O pai havia morrido combatendo na Normandia e a mãe lutava para que eles continuassem na escola e tivessem o mínimo para sobreviver. Eles brincavam no jardim em frente a sua casa, que hoje já não era tão bonito quanto nos tempos antes da Grande Guerra. Ficaram curiosas quando o carteiro parou no pequeno portão e os chamou, entregando-lhes um pequeno pacote. Tiveram uma surpresa quando viram que era um livro, uma edição traduzida para o alemão de “A aventura do Ratinho Michel”.


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